Artemis (Sofia Kokkali, cúmplice habitual da realizadora Jacqueline Lentzou), pensava ter escapado às “garras” da família até ser convocada para regressar e tomar conta do pai — porque mais ninguém, da mãe divorciada e ausente aos irmãos e cunhados e primos de uma boçalidade a meio caminho entre a crueldade e o ridículo, quer assumir o “frete” de tomar conta de um inválido. Este regresso involuntário à armadilha familiar parece aquela célebre frase dos mafiosos que procuram abandonar o crime — “eu bem tento fugir mas eles acabam sempre por me apanhar”. Mas é também, no caso de Artemis, uma oportunidade de perceber o seu próprio lugar no mundo e reparar a sua relação com o pai, mesmo que aos soluços e aos encontrões, mediada por uma colagem de diários — os da jovem, que ouvimos em voz off, e os do pai, que vemos em VHS — e por corpos que se procuram adaptar às suas novas condições. Jorge Mourinha, PÚBLICO