Má Sorte no Sexo ou Porno Acidental

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Comédia Dramática 106 min 2021 M/18 09/09/2021 ROM, GB, Croácia, SUI, LUX

Título Original

Bad Luck Banging Or Loony Porn

Sinopse

Vencedor do Urso de Ouro no 71º Festival de Berlim, este filme do romeno Radu Jude (“Uppercase Print”) centra-se numa professora de história do secundário, Emi, que se vê a braços com o escândalo causado por uma “sextape” sua com o marido que vai parar à internet. Ela decide não ceder à pressão dos pais dos seus alunos para se demitir, e é esse o mote para esta sátira social rodada e passada em plena pandemia de covid-19. PÚBLICO

Críticas dos leitores

Má sorte no sexo ou porno acidental

Fernando Oliveira

“Má sorte no sexo ou porno acidental”, o primeiro filme que vi de Radu Jude, é um olhar inquietante sobre o mal-estar que define as sociedades actuais, a hipocrisia instalada, o politicamente correcto tornado numa sinistra forma de censura, o parecer acima do ser. É um filme que escolhe a confrontação com o espectador para melhor estilhaçar o zeitgeist imposto pelas redes sociais e o sensacionalismo noticioso actual. E que confronta, ao mesmo tempo, a intolerância, o racismo, a homofobia, o sexismo, e o nacionalismo mais perverso que daí emerge. É, portanto, uma sátira, onde o realizador ridiculariza, entre o cómico e o azedo, os comportamentos actuais da sociedade romena (que são quase os mesmos que os das outras). <br />O filme divide-se num prólogo, três partes, e três finais; e Jude tem a ousadia de em cada um deles nos mostrar registos completamente diferentes, uma narrativa quase caótica, subversiva, que agarra na moral e nos bons costumes, dá-lhe duas voltas no ar, e mostra-nos a sua crueldade intrínseca. <br />O prólogo é porno caseiro, desenfreado, um casal a fazer sexo, mostrado de forma explicita. Este prólogo que nos será explicado aos poucos: a mulher, Emi (Katia Pascariu) é professora de literatura num colégio privado elitista, ela e o marido colocaram o vídeo num site pornográfico, mas daí extravasou para o domínio público. <br />A primeira parte do filme mostra a protagonista a deambular por Bucareste, mas embora a câmara de Jude a siga não se prende a ela, desvia o olhar para os cartazes publicitários, para as montras, para a confusão das ruas, para as discussões e conversas, escuta e vê a vida numa cidade e depois volta a Emi. Esta primeira parte quase parece ser um documentário como uma personagem de ficção dentro, mais interessante ainda porque foi filmado no Verão de 2020, em plena pandemia, o que o torna um documento também cómico sobre as novas regras sociais. <br />A segunda parte é um intervalo na narrativa, é um dicionário de “anedotas, sinais e milagres” e é isso mesmo, uma série de palavras definidas por pequenas frases, apontamentos históricos, vídeos que o realizador provavelmente foi tirar à internet. “Natal” ou “cona” entre muitas outras são definidas com um humor irónico e cruel, é um lamento esta segunda parte do filme. <br />A terceira parte volta à ficção, e ao problema de Emi. Em estilo “sitcom”, mesmo em plena pandemia, há uma reunião no colégio com os pais dos alunos. Estes incluem todos os estereótipos mais ridículos da sociedade romena e, enquanto Emi defende a sua privacidade e a sua competência profissional, o pior do ser humano vem ao de cima na argumentação daqueles pais: as teorias da conspiração, a incapacidade de ouvir o outro, a defesa do indefensável, o racismo contra os judeus e o ciganos, o revisionismo histórico, o machismo: um retrato da estupidez humana. <br />E os três finais: sem adiantar muito, o último mete a “Mulher Maravilha” (sim, a personagem da DC Comics) e dildos gigantes. É ver para crer. <br />Um olhar absolutamente livre e corajoso, amoral e incorrecto, sobre o pântano moral e imoral que é o nosso presente social. Um filme muito inteligente e perturbante. <br />(em "oceuoinfernoeodesejo.blogspot.pt")
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DocFilme dos tempos de hoje

Raul Gomes

Que por acaso se passa na Roménia, e, daí o aspecto obtuso que nos dá da realidade de um país, que mais parece de terceiro mundo, fruto talvez do seu passado errante, entre o comunismo primário, a direita reaccionária e xenófoga e uma muito precoce democracia. <br />Vivem do e no passado, sem se conseguiram integrar numa Europa pluralista. <br />O filme vale pelos últimos 15 minutos, na discussão aberta, que nos dá uma imagem aterradora, do que é neste momento a Europa de Leste.
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Burlesco, mas a falar de coisas sérias

Nazaré

Tem a virtude de divertir sem deixar que nos distraiamos das coisas sérias que são ditas. Para o meu gosto, o sentido de humor é às vezes brutal demais, mas tem grandes pontos a seu favor. Dividido em três partes, a terceira é a continuação da primeira, a fazerem sanduiche com um "dicionário" que alinha uma série de reflexões provocadoras – no bom sentido, no mesmo sentido da Encyclopédie no século XVIII em França: a maneira como se associam ideias aos vocábulos pode ser altamente subversiva. <br />A primeira parte pode parecer algo trivial, deambula com a protagonista por vários cenários de (creio eu ser) Bucareste, embora seja de evidente interesse o uso invulgar da câmara subjectiva, "fixando os olhos" em detalhes curiosos, como àpartes da agitação urbana; e vai mostrando episódios de horrível desrespeito entre as pessoas que, aliás, está também na origem da "má sorte" do título, fazendo pensar como se tem de viver com este tipo de desumanidade todos os dias. E é em complemento disso que a segunda parte nos ajuda a perceber algumas coisas sobre o que é o ponto de vista histórico-cultural da Roménia, o que vai ser útil para a terceira parte, o culminar desta fita e mais não dá para dizer – é ir ver.
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4 estrelas

José Miguel Costa

A comédia dramática "Má Sorte No Sexo Ou Porno Acidental", do realizador romeno Radu Jude, é um dos filmes mais subversivos e desconcertantes a que assisti nos últimos anos. <br />Filmado em plena pandemia, e tendo-a como uma das "personagens" omnipresentes, tem por base a história de uma professora de um colégio de elite que a vê a sua carreira em risco depois de uma ‘sex tape’ pessoal ir parar à Internet. <br /> <br />No prólogo somos confrontados com cenas de sexo explicito entre um casal, captadas em modo "home video". <br />De seguida a narrativa divide-se em três segmentos (formalmente diferentes entre si): <br />- 1° capitulo - Seguimos a deambulação incessante da protagonista pelas ruas de Bucareste, sem que saibamos qual o objectivo da mesma ou o destino final. <br />Impera um olhar realista próximo da linguagem documental (com o realizador a mostrar apreço por planos aparentemente desenquadrados e "sem sentido"), que nos conduz ao longo de uma cidade caótica e saturada por episódios soltos de agressões fortuitas, mesquinhez e constantes queixumes de anónimos ("não, nao vai ficar tudo bem"). <br />- 2° capitulo - Indefinível e sem qualquer conexão com o enredo. Encaremo-lo como um "separador", durante o qual o Radu Jude dá asas ao seu delirio psicótico, brindando-nos com uma multiplicidade de curtos sketches de humor absurdo e non sense sobre temáticas dispares (e sempre com uma visão critica subjacente), recorrendo para o efeito exclusivamente a imagens de arquivo. <br />- 3° capitulo - Num contexto teatralizado assistimos ao julgamento da professora durante a reunião de pais na escola. <br />Uma paródia moral que coloca a nu as hipocrisias de toda uma sociedade podre (ali representada metaforicamente por cada um progenitores) e ironiza sobre os negacionismos e as indignações colectivas nas redes sociais. <br />E por fim temos direito a um epilogo tripartido, que nos dá opção de escolha sobre o desenlace. <br /> <br />Perante isto é fácil aferir que somos acometidos por sentimentos antagónicos ao longo do visionamento, mas "feitas as contas" como resistir a uma obra que termina com uma Mulher Maravilha a enfiar um dildo na boca de um padre?
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