Faltou ar ao mergulhador...
Pedro Brás Marques
A vertigem e o colorido da vida de um dos maiores aventureiros do século XX, e um dos meus heróis de referência, prometiam um grande filme. Infelizmente, há mais energia e brilhantismo em qualquer dos documentários de Jacques Cousteau do que neste seu biopic assinado por Jérôme Salle. <br />A história é contada ao ritmo da relação entre Cousteau e o filho mais novo, Phillipe, o seu predilecto e em quem ele via como sucessor nas empresa e no desígnio marítimo. Desde sempre fascinado pelo risco e pela aventura, Phillipe não tinha uma relação pacífica com o progenitor, um ser orgulhoso, egocêntrico, um gestor irresponsável e um mulherengo incorrigível. Pois é, esse é o homem atrás da lenda e Phillipe sempre fora alguém para quem a verdade e a autenticidade constituíam valores de referência na sua caminhada vital. Isto, até ao momento em que estas forças opostas se cruzaram e os interesses se fundiram. Tudo aconteceu numa viagem à Antárctica, perante os crimes ambientais que por lá viram e face à imensidão branca que os fascinou, “Ulisses regressou a Ítaca” e a odisseia terminou começando uma nova era de profícua coexistência entre os dois. Como é sabido, Phillipe haveria de morrer, num desastre de aviação, no rio Tejo, já próximo de Lisboa, o que destroçou completamente o velho comandante. Foi como se a luz da vida se tivesse apagado… <br />Jerôme Salle não soube aproveitar e explorar a densidade da relação entre os dois, antes narrando a história através do pulsar de episódios, muitos deles espaçados no tempo. Faltou, claramente, consistência narrativa e um fio condutor mais sólido para assimilarmos os conflitos entre Jacques e Phillipe. Salle não o soube fazer, mas esta incapacidade só será desconhecida de quem não viu dois dos seus filmes anteriores, “Largo Winch” e “Largo Winch II”, onde tratou de desbaratar a complexa história do herdeiro aventuroso criada por Van Hamm, em BD. É claro que há algo impossível de errar: as cenas submarinas, algumas de uma beleza sublime. Quanto às interpretações, Phillipe ganha vida através de Pierre Niney, uma jovem estrela francesa em ascensão que contracena com dois grandes actores: Lambert Wilson, de quem sempre gostei mas passei a adorar desde o magnífico “Des Hommes et des Dieux” de Xavier Beauvois, e Audrey Tatou, a imortal “Amélie” do filme homónimo de JP Jeunet. Portanto, Jerôme Sallé tinha tudo para brilhar mas não teve arte para se elevar acima da normalidade. O que é pena. Porque Jacques Costeau merecia mais e melhor!
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