Correu Tudo Bem

Imagem Cartaz Filme
Foto
Votos do leitores
média de votos
Imagem Cartaz Filme
Foto
Votos do leitores
média de votos
Drama 113 min 2021 M/14 30/12/2021 FRA

Título Original

Tout s'est Bien Passé

Sinopse

Aos 85 anos, André tem um AVC. Fica meio paralizado. Quando a sua filha, Emmanuèle, vai ter com ele para lhe prestar cuidados, este pede-lhe para ela o ajudar a pôr fim à sua própria vida. A filha tem dificuldade a aceitar que será ela a provocar a morte do pai.
Com André Dussollier e Sophie Marceau nos papéis principais, este filme de François Ozon, o realizador de “Swimming Pool” ou “5x2”, é baseado no romance homónimo de 2013 da entretanto desaparecida Emmanuèle Bernheim, que co-escreveu ou trabalhou em vários filmes do realizador. O livro era a história real de Emmanuèle. PÚBLICO

Críticas Ípsilon

O inverno de um patriarca

Luís Miguel Oliveira

Longe do melhor Ozon, mas também longe do pior Ozon.

Ler mais

Críticas dos leitores

Correu quase tudo bem...

Pedro Brás Marques

“A vida não se define por critérios médico-científicos, já que se trata de um conceito político, filosófico e teológico”, como referiu António Guerreiro, há uns tempos, na sua crónica no Ípsilon. Vivemos numa sociedade que se esqueceu da morte enquanto momento fundamental da própria existência humana. É a “crise da morte” na expressão de Edgar Morin. Num mundo onde todos julgam que têm direito à felicidade material, a morte é algo que entra em choque com isso, pelo que há que a afastar e esquecer, talvez por estarmos “desiludidos com Deus” para parafrasear Richard Dawkins e termos resolvido substituí-lo por uma amiga, mais espectacular e sensorial, a Ciência, sonhando com a nova revolução evolutiva, como ironicamente alerta Francis Fukuyama. Mas, então, como responder à questão fundamental: qual é o valor da Vida e que fim deve ter? Se invocarmos Kant, trata-se dum valor inviolável, intrínseco e absoluto. Mas também se pode optar por uma visão utilitarista, de que só deveremos mantê-la se realmente houver condições para viver, como defendia Stuart Mill. No meio, há uma terceira posição, a que poderemos chamar de individualista, e que deixa a resolução da questão para o campo da escolha individual: é o próprio quem decide.
Todo este introito serve para sublinhar e alertar para enorme dimensão da questão da eutanásia, enquanto decisão de colocar fim à vida de forma não natural, algo que está na ordem do dia, quer no plano ético, onde sempre esteve, mas agora também no político e legal. Por ali passam conceitos complexos, como suicídio, homicídio, suicídio assistido, eutanásia passiva e activa, voluntária ou involuntária, distanásia, ortotanásia e, claro, o “direito a morrer”. A ficção já se tem debruçado sobre o tema, em filmes como “Million Dollar Baby” de Eastwood, “Amor” de Haneke, “Mar Adentro” de Amenábar, “Silent Heart” de Bille August, entre outros, sem esquecer series como “Mary Kills People” e livros como “A Balada de Adam Henry”, de Ian McEwan.
Então, como é o contributo do prolífico François Ozon para a temática? Com “Correu tudo bem”, o realizador francês volta a querer polemizar, como já fez no passado, basta recordar “Jeune et Jolie” sobre a questão da voluntariedade em proporcionar sexo pago ou o magnífico “Grâce à Dieu” acerca da pedofilia na Igreja. Aqui, a eternamente bela Sophie Marceau interpreta Emmanuele, uma filha que é confrontada pelo desejo do pai em colocar fim à vida, através de eutanásia voluntária. Um AVC, seguido de uma trombose, colocam-no numa situação física deplorável, de total dependência, indigna para alguém que foi um industrial de sucesso e um humanista ligado às artes. Ao seu lado está a outra irmã, Pascale, mas o foco da trama centra-se na filha que partilha o nome de Cristo, Emanuelle a quem é pedido que siga a palavra do pai... Porque é a mais velha, porque está mais próxima do pai e é ela que melhor consegue sintonizar-se com o propósito paterno, pelo que vai ser ela a liderar a satisfação do pedido, apesar da natural dor e do conflito interior. Como sempre, Ozon recheia o filme de subtilezas que ajudam a tudo homogeneizar. Como quando Emmanuele aparece quase sempre vestida de azul, ou quando explica a turistas, em inglês, o que eles pretendiam (comunicação que não consegue “traduzir” com o pai), ou as esculturas circulares da mãe, uma mulher fria e granítica, igualmente incapaz de trabalhar.
Não há exactamente um problema com “Correu tudo bem”, mas tendo em conta alguns dos filmes citados, cuja comparação é inevitável (“Amor”, então…), fica algo aquém na dimensão emocional que poderia alcançar, talvez pela indecisão que perpassa pelas personagens ou, então, por se ter colocado o foco não no doente (como acontecia em “Mar Adentro” e “Million Dollar Baby”) mas a quem ele pede ajuda. Sophie Marceau tem uma luta, é certo, entre o emocional que lhe diz que “não” e o racional que a aconselha ao “sim”, mas parece faltar-lhe aquele pormenor que distingue o bom do óptimo. André Dussollier enquanto o pai que deseja a eutanásia, tem uma magnifica composição, em especial ao nível físico. Referência, ainda, para as presenças de Charlotte Rampling, o sentimento é outro, quando a vemos idosa e amarga, bem diferente do tempo em que Ozon a filmou em “Swimming Pool” e da musa de Fassbinder, Hannah Schygula.
O debate sobre o tema está longe de estar encerrado e filmes como este, provocam discussão e ajudam a definir posições. Há mais, como objecto cinematográfico em si, mas, se fosse só pelo debate, já valeria a pena.

Continuar a ler

2 estrelas

José Miguel Costa

François Ozon é um dos realizadores franceses mais produtivos, polivalentes (saltitando entre géneros cinematográficos de obra para obra, apesar das temáticas que abarca serem recorrentes – sexo e morte), interessantes da actualidade e, simultaneamente, um dos mais irregulares em termos de produto final.
Desta feita, com “Correu Tudo Bem” calhou-nos na rifa um dos seus filmes "nim”.

Um drama morno (baseado no romance autobiográfico de Emmanuèle Bernheim, um seu antigo colaborador, entretanto, falecido) e de estética simples/classicista (quase exclusivamente constituido por close-ups e planos de conjunto convencionais), independentemente de explorar uma temática forte e fracionante (o recurso à eutanásia, num país em que a mesma ainda não é legalmente permitida).
A história, exposta de um modo (demasiado) linear, mas sem emissão quaisquer juizos de valor ou resquícios de planfetarismo, explora o processo emocial e burocrático que ocorre após um octogenário de classe média alta, paralisado em consequência de um avc, pedir às suas duas filhas (com as quais sempre manteve uma relação distante) que o ajudem a suicidar-se.

Vê-se sem grande entusiasmo, sendo que apenas nos mantém presos graças às performances irrepreensíveis do seu elenco de estrelas gaulesas (Sophie Marceau, André Dussollier, Géraldine Pailhas e Charlotte Rampling).

Continuar a ler

2 estrelas

José Miguel Costa

François Ozon é um dos realizadores franceses mais produtivos, polivalentes (saltitando entre géneros cinematográficos de obra para obra, apesar das temáticas que abarca serem recorrentes – sexo e morte), interessantes da actualidade e, simultaneamente, um dos mais irregulares em termos de produto final.
Desta feita, com “Correu Tudo Bem” calhou-nos na rifa um dos seus filmes "nim”.

Um drama morno (baseado no romance autobiográfico de Emmanuèle Bernheim, um seu antigo colaborador, entretanto, falecido) e de estética simples/classicista (quase exclusivamente constituido por close-ups e planos de conjunto convencionais), independentemente de explorar uma temática forte e fracionante (o recurso à eutanásia, num país em que a mesma ainda não é legalmente permitida).
A história, exposta de um modo (demasiado) linear, mas sem emissão quaisquer juizos de valor ou resquícios de planfetarismo, explora o processo emocial e burocrático que ocorre após um octogenário de classe média alta, paralisado em consequência de um avc, pedir às suas duas filhas (com as quais sempre manteve uma relação distante) que o ajudem a suicidar-se.

Vê-se sem grande entusiasmo, sendo que apenas nos mantém presos graças às performances irrepreensíveis do seu elenco de estrelas gaulesas (Sophie Marceau, André Dussollier, Géraldine Pailhas e Charlotte Rampling).

Continuar a ler

Envie-nos a sua crítica

Preencha todos os dados

Submissão feita com sucesso!