Que desde que deixou de representar nos seus filmes (em "Gran Torino", 2008), todos os que dirigiu depois, uns mais que outros, foram decepcionantes (mas também é verdade que antes tinha criado obras magnificas como "Mystic River" ou "A Troca", aonde também não representava), será uma questão de gosto, mas é o meu gosto. Que muitos dos seus filmes maiores são aqueles onde o realizador Clint Eastwood filma o actor Clint Eastwood a representar a personagem Clint Eastwood, ou como a confusão entre o homem e a sua persona têm uma dimensão essencial nos seus filmes, também me parece indiscutível. Posto isto, "Correio de droga" é um belíssimo filme, onde Eastwood volta a ser actor nos seus filmes e onde onde uma das coisas mais comoventes é o confronto entre esta ideia lendária do realizador e do actor e a debilidade resultante da sua idade.
Eastwood (88 anos de idade) conta-nos a estória de Earl Stone, um floricultor do Illinois, que depois da falência do negócio, se vê desprezado pela família que negligenciou durante toda a vida (no inicio do filme, 10 anos da estória contada no filme, vê-mo-lo a faltar ao casamento da filha por causa de uma feira onde recebeu um prémio); com 90 anos aceita trabalhar para um cartel de droga mexicano a transportar droga do sul dos EUA para Chicago, é escolhido por ser um "homem velho e branco" que nunca foi multado.
Ora o que faz Eastwood com um personagem tão amoral e "fora" do conservadorismo radical que o caracteriza? Vai usando a comédia e o sarcasmo, mas também a sua espantosa qualidade para retratar as tragédias mais íntimas do seus personagens, para desmontar o "peso" que acompanha Earl. Tanto brinca com os estereótipos raciais e sexistas em duas ou três cenas tão divertidas como inteligentes; como expõe o racismo entranhado na sociedade americana (o mexicano mandado parar pela policia e diz que "estatisticamente são os cinco minutos mais perigosos da sua vida"). Tanto aligeira progressivamente a relação de Earl com os traficantes, que chega à amizade; como encena o essencial do filme, a procura de uma redenção por aquele homem que o vai levar a um regresso à família num percurso quase sacrificial e sacro (até no simbolismo, na última viagem, depois de agredido e antes de ser preso, conduz com o sangue a correr pela cabeça). Há em Earl a necessidade de corrigir-se, tanto de perdoar-se como que o perdoem, e, quando é preso, quando já foi aceite pala família, dá-se como culpado, um homem cansado de si mesmo encontra a paz a cuidar das "suas" flores na prisão. Um final muito belo de um filme encharcado num realismo pungente que nos inquieta e perturba.
"em "oceuoinfernoeodesejo.blogspot.pt")
Eastwood (88 anos de idade) conta-nos a estória de Earl Stone, um floricultor do Illinois, que depois da falência do negócio, se vê desprezado pela família que negligenciou durante toda a vida (no inicio do filme, 10 anos da estória contada no filme, vê-mo-lo a faltar ao casamento da filha por causa de uma feira onde recebeu um prémio); com 90 anos aceita trabalhar para um cartel de droga mexicano a transportar droga do sul dos EUA para Chicago, é escolhido por ser um "homem velho e branco" que nunca foi multado.
Ora o que faz Eastwood com um personagem tão amoral e "fora" do conservadorismo radical que o caracteriza? Vai usando a comédia e o sarcasmo, mas também a sua espantosa qualidade para retratar as tragédias mais íntimas do seus personagens, para desmontar o "peso" que acompanha Earl. Tanto brinca com os estereótipos raciais e sexistas em duas ou três cenas tão divertidas como inteligentes; como expõe o racismo entranhado na sociedade americana (o mexicano mandado parar pela policia e diz que "estatisticamente são os cinco minutos mais perigosos da sua vida"). Tanto aligeira progressivamente a relação de Earl com os traficantes, que chega à amizade; como encena o essencial do filme, a procura de uma redenção por aquele homem que o vai levar a um regresso à família num percurso quase sacrificial e sacro (até no simbolismo, na última viagem, depois de agredido e antes de ser preso, conduz com o sangue a correr pela cabeça). Há em Earl a necessidade de corrigir-se, tanto de perdoar-se como que o perdoem, e, quando é preso, quando já foi aceite pala família, dá-se como culpado, um homem cansado de si mesmo encontra a paz a cuidar das "suas" flores na prisão. Um final muito belo de um filme encharcado num realismo pungente que nos inquieta e perturba.
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