Com um argumento adaptado por Christopher Hampton de uma sua peça para Teatro, este filme de Cronenberg, “Um método perigoso”, tem algumas dificuldades em ultrapassar a sua ascendência. Ou seja, nota-se demasiado a teatralidade do texto e os diálogos excessivos que tornam o filme muitas vezes algo árido, seco de emoções.
Nada disto tira mérito à realização de Cronenberg, num filme em que está inscrita de forma marcante a sua marca de autor. Se não é um filme em que os instintos mais básicos dos personagens são representados por mutações, físicas ou delirantes, que explodem dos seus corpos; se a violência maligna que define os personagens doutros filmes do realizador não está presente neste – embora a forma limpa como nos mostra a sociedade do princípio do século passado, não mostrando a miséria em que vivia grande parte da população europeia da época, seja uma forma de “esconder” debaixo da “pele” social, a bestialidade e os instintos mais horrorosos que iriam levar a Europa à barbárie que se aproximava: a particular relação entre a parte física e moral que nos seus filmes leva à sexualidade doentia e extrema (como em “Crash”); o mundo dos homens condicionado e amedrontado pelo poder “sexual” das mulheres (como em “Rabid” ou “Dead ringers”); a vertigem provocada pelos abismos mais profundos da alma humana (como em “Uma história de violência” ou “Eastern promises”); tudo isto, de outras maneiras, está presente neste filme que conta a história do conflito entre Freud e Jung, com uma mulher (uma doente, a russa Sabina Spielrain), e a sua sexualidade (os fantasmas, os tumultos interiores), pelo meio a redefinir os conceitos de vida de Jung (Sabina tornar-se-ia sua amante e, depois, sua discípula); e o que está aqui encenado é a vertigem que Esta desordem moral provoca na normalidade exigida àquela relação; e por consequência também de Freud.
Com actores extraordinários, Michael Fassbender, Viggo Mortensen, Sarah Gadon e, acima de todos, Keira Knightley com um desempenho magnífico numa representação encima do arame entre o sublime e o ridículo, balançando sempre para o primeiro lado.
Não será uma obra-prima como muitos outros filmes de Cronenberg são, mas é um filme interessantíssimo, com um rigor cenográfico extraordinário e uma realização notável na sua perfeição, chega a ser um filme austero, mas também admirável na sua criatividade.
(em "oceuoinfernoeodesejo.blogspot.pt")
Nada disto tira mérito à realização de Cronenberg, num filme em que está inscrita de forma marcante a sua marca de autor. Se não é um filme em que os instintos mais básicos dos personagens são representados por mutações, físicas ou delirantes, que explodem dos seus corpos; se a violência maligna que define os personagens doutros filmes do realizador não está presente neste – embora a forma limpa como nos mostra a sociedade do princípio do século passado, não mostrando a miséria em que vivia grande parte da população europeia da época, seja uma forma de “esconder” debaixo da “pele” social, a bestialidade e os instintos mais horrorosos que iriam levar a Europa à barbárie que se aproximava: a particular relação entre a parte física e moral que nos seus filmes leva à sexualidade doentia e extrema (como em “Crash”); o mundo dos homens condicionado e amedrontado pelo poder “sexual” das mulheres (como em “Rabid” ou “Dead ringers”); a vertigem provocada pelos abismos mais profundos da alma humana (como em “Uma história de violência” ou “Eastern promises”); tudo isto, de outras maneiras, está presente neste filme que conta a história do conflito entre Freud e Jung, com uma mulher (uma doente, a russa Sabina Spielrain), e a sua sexualidade (os fantasmas, os tumultos interiores), pelo meio a redefinir os conceitos de vida de Jung (Sabina tornar-se-ia sua amante e, depois, sua discípula); e o que está aqui encenado é a vertigem que Esta desordem moral provoca na normalidade exigida àquela relação; e por consequência também de Freud.
Com actores extraordinários, Michael Fassbender, Viggo Mortensen, Sarah Gadon e, acima de todos, Keira Knightley com um desempenho magnífico numa representação encima do arame entre o sublime e o ridículo, balançando sempre para o primeiro lado.
Não será uma obra-prima como muitos outros filmes de Cronenberg são, mas é um filme interessantíssimo, com um rigor cenográfico extraordinário e uma realização notável na sua perfeição, chega a ser um filme austero, mas também admirável na sua criatividade.
(em "oceuoinfernoeodesejo.blogspot.pt")