Shooting Dogs - Testemunhos de Sangue

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Drama 115 min 2005 04/05/2006 GB, ALE

Título Original

Shooting Dogs

Sinopse

Joe Connor foi para o Ruanda como professor por acreditar que podia fazer a diferença. Quando a sua escola se torna um refúgio para milhares de ruandeses em fuga do genocídio, Joe promete à sua aluna mais brilhante, Marie, que os soldados das Nações Unidas a protegerão das milícias extremistas, sedentas de sangue. Mas quando as Nações Unidas abandonam os refugiados, Joe e o responsável da escola, o Padre Christopher, enfrentam um terrível dilema: fugir ou manter-se fiéis aos ruandeses? <p/>PUBLICO.PT

Críticas dos leitores

África deles

Gonçalo Sá - http://gonn1000.blogspot.com

Embora seja realizador há já alguns anos - o seu primeiro filme, "Scandal", data de 1989 -, Michael Caton-Jones nunca foi dos mais estimulantes, antes um tarefeiro por vezes competente mas cujas obras não apresentam consideráveis doses de inspiração ou personalidade. "Instinto Fatal 2", estreado este ano, evidencia esse cenário; porém "Shooting Dogs — Testemunhos de Sangue", que chegou recentemente - e de forma bem mais discreta - às salas, está uns furos acima desse e de outros títulos banais de Caton-Jones, como "Doc Hollywood" ou "O Chacal". Inspirado no massacre ocorrido no Ruanda em 1994, onde cerca de 800.000 tutsis foram assassinados por milícias de etnia hutu, "Shooting Dogs — Testemunhos de Sangue" baseia-se nas experiências de um jornalista da BBC, David Belton, que esteve presente durante os trágicos acontecimentos nos locais onde decorre a acção do filme, maioritariamente numa escola nos arredores da capital que serviu de quartel-geral provisório para os soldados da ONU.<BR/><BR/>A película acompanha o empenho de um jovem professor idealista recém-chegado e de um dedicado velho padre há décadas no local em salvar grande parte da população tutsi da zona que se refugiou na escola, o único local que lhes garante alguma segurança, pelo menos enquanto estiver também ocupado por representantes das Nações Unidas. No entanto, a partir do momento que estes últimos recebem ordens de evacuar o país, nada impedirá que as milícias hutu, que cercam o local, dêm continuidade ao genocídio, colocando em risco não só os ruandeses mas também os estrangeiros que insistam em permanecer no local.<BR/><BR/>Duro e arrepiante retrato da carnificina resultante de situações extremas, "Shooting Dogs — Testemunhos de Sangue" convence ao aliar o foco de uma questão pertinente a uma abordagem emocionalmente intensa, evitando ceder à manipulação que prejudica, não raras vezes, projectos centrados em temáticas similares. Conseguindo ser angustiante e reveladora sem recorrer ao sentimentalismo oportunista, a acção do filme desenvolve-se sem se limitar a uma mera ordenação esquemática de acontecimentos, privilegiando o contraste dos conflitos humanos, tanto interiores como exteriores.<BR/><BR/>O contributo dos dois actores principais é fulcral, e tanto o veterano John Hurt (seguro como sempre) como o jovem Hugh Dancy (com um desempenho que interliga eficazmente ingenuidade, receio e determinação) estão à altura do que lhes é exigido, compondo personagens com as quais é fácil estabeler empatia e cujas inquietações são bem verosímeis. A realização de Caton-Jones, crua e despojada, próxima de um estilo documental, acentua o sentido de urgência e crispação, consolidando um realismo palpável e contribuindo também para que este seja um dos seus trabalhos mais sólidos.<BR/><BR/>Marcado por cenas onde emerge o pior e, por vezes, o melhor da natureza humana, "Shooting Dogs — Testemunhos de Sangue" é uma obra sentida e honesta que não merece passar despercebida - ainda que infelizmente, e à semelhança da situação que retrata, esteja quase condenada à indiferença de grande parte do público, pois ao contrário de, por exemplo, "Instinto Fatal 2", não conta com uma grande campanha promocional nem com um nome mediático no elenco. Nota: 3,5/5. Bom.
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Apatia e impotência

Rita Almeida (http://cinerama.blogs.sapo.pt/)

Os dois filmes de Michael Caton-Jones actualmente em cartaz, “Shooting Dogs” e “Basic Instinct 2”, não podiam ser mais distintos, e espero sinceramente que ninguém ponha em dúvida que bilhete comprar. E quem ache que tendo visto o filme “Hotel Rwanda”, já viu tudo o que há para ver sobre o massacre étnico que decorreu naquele país africano na Primavera de 1994, fique a saber que há espaço suficiente para mais do que um filme sobre este tema. Ruanda, Abril de 1994. A Escola Técnica Oficial de Kigali é gerida, há 10 anos, pelo Padre Christopher (John Hurt). Joe Connor (Hugh Dancy) é um jovem professor, idealista e ingénuo que foi para África para "fazer a diferença". Infelizmente, a história tem mostrado que a herança colonial deixada em África pelos ocidentais fez diferença, sim, mas não no melhor sentido, e o Ruanda é mais um exemplo disso.<BR/><BR/>Quando o presidente ruandês Habyarimana é morto, tem início uma guerra étnica entre a maioria Hutu e a minoria Tutsi, que resultou na matança - sobretudo com catanas - de 800.000 Tutsis entre Abril e Junho de 1994. Rapidamente a escola, que também alberga forças de manutenção de paz da ONU, se torna um refúgio para os Tutsis.<BR/><BR/>Baseado numa história verídica (o co-argumentista, David Belton, é jornalista da BBC e estava no Ruanda quando começou o massacre), mas com personagens ficcionais, “Shooting Dogs” equilibra bem os eventos reais - foi filmado nos verdadeiros locais e com muitos sobreviventes desta tragédia como figurantes e técnicos - e o drama de um padre católico cuja fé é posta à prova pela hipocrisia dos políticos Hutu e por toda aquela carnificina; de um dedicado professor que procura em si a coragem de ficar e lutar ao lado dos seus alunos; e de um oficial da ONU, o Capitão Charles Delon (Dominique Horwitz), impedido de interferir no conflito, ironicamente limitado a matar os cães que comem os cadáveres que cercam a escola para prevenir um risco de saúde pública.<BR/><BR/>Apesar do filme ser apresentado do ponto de vista de estrangeiros, a sua convicção, compaixão e força não surgem diminuídos. E da inevitável comparação com “Hotel Rwanda” atrevo-me a dizer que “Shooting Dogs” sai a ganhar. Condenado a ficar na sombra do primeiro, dado o "timing" de lançamento e a projecção dos Óscares, este filme é mais poderoso do ponto de vista do relato histórico. É também mais duro e Caton-Jones revela mais coragem que Terry George ao abordar o tema da raça como motivo da indiferença internacional, quando Rachel (Nicola Walker), a jornalista da BBC, fala de como se comoveu com o massacre do Kosovo, pela identificação com aquelas pessoas, enquanto que ali permanecia indiferente, mesmo contra a sua vontade, porque "são apenas africanos mortos". É a existência de europeus na escola que lhe dá o motivo para fazer uma reportagem.<BR/><BR/>O mais marcante deste filme é o vazio deixado pelo resto do mundo, a grande apatia internacional. As imagens de arquivo da porta-voz do Departamento de Estado dos EUA debatendo a diferença semântica entre "actos de genocídio" e "genocídio", sendo que o último obrigaria a comunidade internacional a intervir, continua a fazer-me sentir o estômago às voltas.<BR/><BR/>“Shooting Dogs” está cheio de referências religiosas e de dúvidas morais. Mas, abstraindo-nos dos conceitos mais fechados de "Deus", é de amor que se trata, essa força comum que une todos os seres. De uma forma honesta e pungente, “Shooting Dogs” faz um retrato tocante sobre a humanidade e sobre a assustadora capacidade do homem de infligir, por puro medo, a maior das crueldades ao seu irmão.<BR/><BR/>Talvez o grito de África acorde em nós algum sentimento de culpa, que surge camuflado no altruísmo de dar algo em troca. Mas este é um filme que todos os ruandeses quereriam que o mundo visse. Devemos-lhes, pelo menos, isso. Ainda que nos custe algumas lágrimas. Para saber mais: http://www.shootingdogsfilm.blogspot.com - http://rwandansurvivors.blogspot.com . Nota: 4/5.
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Num só filme, (as) questões incontornáveis

José Ramos

Um filme que aborda questões incontornáveis, políticas e morais. Políticas: o direito de ingerência, por razões humanitárias; com ou sem mandato da ONU? Somos rápidos em condenar Bush no Iraque, mas depois acusamos a ONU de passividade em relação ao genocídio ruandês. Morais: devemos permanecer ao lado dos entes amados quando estes estão condenados, não podendo nós salvá-los, mas podendo salvarmo-nos a nós próprios, se fugirmos? Devemos obedecer a uma ordem superior quando daí possa resultar o sacrifício de milhares de inocentes em decorrência de uma injusta agressão por terceiros? Não devemos ao menos assegurar a esses inocentes a possibilidade de legítima defesa?<br/><br/>O filme trata destas questões e vai dando as respostas - audácia, nos tempos que correm! - para quem as quiser ler, sem nunca deixar de ser objectivo e isento. Até dá resposta à tentação sempre presente de culpar Deus pelo mal e pela dor humana, quando o mal resulta justamente do mau uso da liberdade, pelo homem, que afasta Deus e impõe a sua ausência. Um filme imperdível que merece cinco estrelas.
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Filme excelente

Zozimo

Tive oportunidade de ver este filme há cerca de um mês. Considero-o uma obra crua e fria com grande realização, um pouco mais do que "Hotel Rwanda" não conseguiu ser. A não perder.
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