Quando entramos na sala de cinema para ver os filmes deste realizador, vamos sempre na expectativa de uma qualquer bofetada de realidade. Pensamos que estamos preparados mas dói sempre mais do que estamos à espera. Este filme esmaga-nos com a solidão de cada um dos membros de uma família aparentemente normal (sem alcoólicos nem mães solteiras). A boa disposição do filho Rory e as melhorias visíveis na relação do casal aliviam quase toda a tensão criada ao longo do filme. Até parece um final feliz se não atendermos ao problema mais profundo e, afinal, o mais silenciado: a imensa solidão da filha Rachel. Um detalhe suficientemente grande para nos deixar um enorme aperto no peito.

Parece que os críticos de cinema do PÚBLICO não apreciaram muito este filme de Mike Leigh que foi filmado no bairro popular de Greenwich, no Sul de Londres. Talvez a falta de familiaridade destes críticos no que respeita ao ambiente social e valores morais que prevalecem no seio da classe trabalhadora na Inglaterra não lhes permitam avaliar a excelente qualidade do trabalho deste cineasta britânico que foi extremamente bem recebido pelos críticos e pelo público neste país. A cena do café foi filmada não longe de Greenwhich, em Welling, onde moro, e posso afirmar que esta história de uma família com dificuldades de toda a ordem é bastante típica das que pessoas que vivem quase à margem da sociedade.