Não Esperes Demasiado do Fim do Mundo
Título Original
Realizado por
Elenco
Sinopse
Uma comédia negra realizada pelo romeno por Radu Jude, que acompanha Angela Raducani (Ilinca Manolache), enquanto percorre de carro a cidade de Bucareste para fazer um vídeo sobre a segurança no local de trabalho, encomendado por uma multinacional. Nesse trajecto, ela depara-se com uma série de situações absurdas que ocorrem durante o que parece ser o fim do mundo.
“Não Esperes Demasiado do Fim do Mundo” estreou-se na competição principal do Festival de Cinema de Locarno de 2023, onde recebeu o Prémio Especial do Júri, e foi exibido nos festivais de Cinema de Toronto e de Nova Iorque. PÚBLICO
Críticas Ípsilon
Não Esperes Demasiado do Fim do Mundo é um dos filmes do ano
Contra o capitalismo selvagem e a uberização do trabalho, Radu Jude monta um imponente e hilariante monumento metaficcional que ergue um espelho ao mundo em que vivemos.
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Não Esperes Demasiado do Fim do Mundo - Radu Jude
Carlos Augusto Ribeiro
A vida da jovem Ângela Raducani é entrecortada com a história de uma outra mulher, com o mesmo nome, motorista de táxi nos anos 80. Dois momentos históricos distintos: o fim próximo do Comunismo (anos 80) e o actual capitalismo globalizado. Porém, com muitas continuidades: a crueldade no quotidiano; a mentalidade machista e preconceituosa contra a mulher emancipada.
No período pós-comunista, o nível de sinistralidade automóvel é elevado. Uma das estradas é ladeada por centenas de memoriais, improvisados, em vários estados de conservação, dos que nela ficaram para trás, atirados para as bermas. Alega-se que o fenómeno é a consequência de uma generalizada atitude de transgressão sistemática das regras de trânsito e de segurança. No entanto, muitas destas transgressões fatais derivam, de facto, das condições de sobre-exploração laboral vigentes.
Sujeita a uma sobrecarga horária (com 12 a 16 horas de trabalho), mal remunerada (e com salário em atraso), quase sem vida privada, a jovem Ângela conduz dia e noite, no limite da exaustão física e psicológica, suportando, com algum estoicismo, as incessantes buzinadelas e insultos de automobilistas, masculinos, impacientes e agressivos.
Por temer vir a perecer num acidente viário, protesta contra as tarefas adicionais diárias. As respostas dos superiores são, invariavelmente, desdenhosas e trocistas. Apesar dos riscos para a sua própria saúde e integridade física e mental, ela aceita as condições desumanas. Segue em frente. Sempre com o mesmo sentimento de estar mais atrasada do que julga, ela parece – tal como um frenético hamster – incansável.
Ela colabora com a equipa de filmagem da Forbidden Planet que realiza uma série televisiva sobre vítimas de acidentes de trabalho, encomendada por uma empresa austríaca. O foco da dita série não é a verdade factual, mas o doseamento conveniente de informação, sentimentalismo, divertimento e propaganda.
O registo de cada testemunho é manipulado, suprimido e deturpado, em todas as etapas do processo. O entrevistado é coagido a omitir e falsificar o seu relato do acidente, para que a empresa austríaca não venha a ter eventuais litígios com a fábrica, judicialmente processada pelo entrevistado.
A troco de uma modesta quantia, dá-se uma conversão espectacular: a vítima é escolhida para assumir, implícita e involuntariamente, a responsabilidade pelo acidente – sacrificando-se em prol da impunidade de uma fábrica, muito lucrativa, com absurdas regras de protecção e segurança laboral, prolongadas do interior para o exterior de um edifício fabril, degradado.
Importa apenas a mensagem positiva: a de que o culpado à força se converte em mensageiro de boas práticas, próprias de uma sociedade avançada.
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