Longe do Paraíso

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Drama 107 min 2002 M/12 21/03/2003 EUA

Título Original

Far from Heaven

Sinopse

No Outono de 1957, os Whitakers representam o quadro perfeito de uma família feliz, no paraíso americano. A sua existência diária é marcada pelas regras de etiqueta, os eventos sociais, os cocktails de fim de tarde e a convivência com os Jones. Cathy Whitaker (Julianne Moore, que volta a trabalhar com Todd Haynes depois de "Safe") é a dona de casa perfeita, esposa e mãe, com uma criada e um jardineiro negros. Frank (Dennis Quaid) é o chefe de família, que todos os meses traz o dinheiro para casa. Têm dois filhos, um rapaz e uma rapariga, ambos na pré-adolescência. <br/> Mas esse mundo estilhaça-se e afasta-se do paraíso quando Cathy descobre que o marido é homossexual e cria laços de amizade com a criada e o jardineiro, que vão desencadear mexericos cruéis na comunidade envolvente e alterar as suas vidas para sempre. <br/> "Longe do Paraíso" é o regresso de Todd Haynes, depois de "Safe" e "Velvet Goldmine" e é uma revisitação dos filmes dos anos 50 com cores berrantes, carros que reluzem ao sol e vento a varrer as folhas mortas e coloridas de Outono, uma evocação dos melodramas de Douglas Sirk (sobretudo dos belíssimos clássicos "Imitation of Life" e "All That Heaven Allows"), John Stahl e Max Ophuls. <br/> O filme esteve em competição oficial em Veneza 2002, onde Ed Lachman (o director de fotografia de "Longe do Paraíso") recebeu o Prémio para uma Contribuição Individual e Julianne Moore foi distinguida com a Taça Volpi para Melhor Interpretação Feminina e o Prémio do Público para melhor actriz.<p/>PUBLICO.PT

Críticas Ípsilon

Fabuloso "dénouement"

Luís Miguel Oliveira

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O paraíso já não mora aqui

Vasco Câmara

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Perto dos 50’s

Mário Jorge Torres

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Sincrónico e anacrónico

Kathleen Gomes

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Críticas dos leitores

Ontem como Hoje

Ricardo Pereira

O director Todd Haynes deixa de lado o glam rock que ele tão bem retratou em “Velvet Goldmine” (Prémio Especial do Júri em Cannes/98) para embarcar neste belo filme de época, ambientado nos anos cinquenta. É tempo de macarthismo, segregação racial, repressão sexual e feminina. A partir do momento em que a perfeita dona-de-casa Cathy (Julianne Moore) flagra seu marido, Frank (Dennis Quaid), beijando um homem, o seu mundo começa a desmoronar. Entra em cena a amizade dela com o jardineiro negro, Raymond (Dennis Haysbert), e está montada a moldura para um conto sobre amor e preconceito. É curioso imaginar porque um director moderno e jovem como Todd Haynes (nascido em 1961) foi seduzido a embarcar num melodrama clássico ao estilo do dinamarquês radicado na América Douglas Sirk (1897-1987), autor de trabalhos como “Imitation of Life”(59), “All That Heaven Allows”(56) – que tem até um enredo ligeiramente parecido com “Longe do Paraíso” – e “Written on the Wind”(57). Em todo caso, o desafio funcionou. O filme respira e nunca parece datado. Mesmo o apuro com que foram tratados todos os detalhes, das cores das roupas à iluminação, não sufoca a história. Ao contrário, tudo serve para fazê-la caminhar, seja a obsessão de Cathy pela arrumação e a limpeza, seja a contenção da voz e dos gestos de todos os personagens. Muito do que se pretende contar aqui está nas coisas que não são ditas, naquilo que se vê por uma brecha nesta superfície tão colorida, tão engomada, tão brilhante, mas pronta a quebrar-se ao mínimo golpe de realidade. Por toda a sua composição esmerada, o filme funciona como um túnel do tempo, uma caixinha de música, onde tanta perfeição aparente é um contraponto ao sufocamento da voz natural das coisas que teima por resistir atrás das portas das casas, que escondem tantos escândalos discretos. Para manter tantas aparências, só resta o sacrifício. Com uma trilha orquestral gloriosa de Elmer Bernstein, o filme é uma jóia em todos os níveis técnicos, com uma fotografia impecável de Edward Lachman e direcção de arte sumptuosa de Mark Friedberg. Em meia dúzia de filmes a partir de 1985 (“Assassins: A Film Concerning Rimbaud”), o realizador Todd Haynes vem desenvolvendo uma interessante obra autoral. Em “Poison”, de 1991, voltou-se para Jean Genet; em “Velvet Goldmine”, de 1998, explorou as possibilidades dramáticas do universo do glam rock, por meio de uma narrativa em puzzle como a do clássico “Citizen Kane”. O cinema de Haynes investiga a sociedade consumista e repressora e também a linguagem. A partir de “Safe”, é mais fácil entender o que Todd Haynes procura transmitir com “Longe do Paraíso”: a noção de que, apesar da auto proclamada queda das barreiras sociais e raciais nos EUA, o preconceito e a incapacidade de saber lidar com a diferença é algo que continua se propagando como um vírus que assume diferentes formas. Em “Longe do Paraíso”, durante uma festa, uma personagem comenta na frente de um “garçom” negro que não há negros na cidade em que vivem. Em “Safe”, durante o jantar da família, servido pela empregada latina, o menino mostra aos pais a redacção que fez na escola, sobre o perigo que a presença de negros e latinos em Los Angeles representa. Esta invisibilidade das minorias soma-se a outro aspecto determinante: a dificuldade de se exprimir, perante uma sociedade que privilegia as aparências e a norma, os nossos desejos mais profundos.
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Tudo previsível

Isabel Clemente

"Longe do Paraíso" tem uma virtude evidente: imitar e muito bem os filmes em "tecnicolor" dos anos cinquenta. A cor, a moda, os penteados. Mas isso não chega para fazer um bom filme. Para mim a narrativa é por demais cronológica, onde o que acontece vem na sequência de algo que já aconteceu e, consequentemente, não espanta. Cito, como exemplo, os olhares trocados no hotel entre os dois homens. Naturalmente que nesse momento se pode presumir que a cura está em risco. E esteve. De um filme, que é arte, espera-se que nos encante no modo como descreve, sem se limitar a uma narrativa "corrida". Veja-se a montagem de "As horas" e compare-se. Por outro lado a temática da homossexualidade já foi muito bem tratada. Quem pode esquecer "Philadelphia"?
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Baunilha e Chocolate

Luís Coelho

Penso, todos os dias, na incrível falácia utilitarista que consome os homens e os governos e que se encontra difundida pelo mundo, com o nome de democracia. Entendo que a maioria das pessoas não percebe que a democracia possui os seus deslavros, as suas dissonâncias éticas. Durante séculos, o homem deu provas suficientes de que aquilo que é útil ou desejado pela maioria não é, obrigatoriamente, correcto. Mas como é o “povo que fala”, como é a “maioria” que move o mundo (?), os desgraçados dos sensíveis actores humanos que enchem a sociedade de um saudável e necessário anacronismo “civil” estão destinados a sofrer. É disto que este filme trata: de um irremediável e indelével distanciamento em relação ao paraíso. O paraíso é visto, entretanto, como uma metafísica inalcançável, uma fenomenologia sobrenatural, comparável unicamente aos Outonos esplendorosos dos anos 50. O paraíso aparece, neste filme, pintado em telas de películas quinquagenárias. Só estas telas já são suficientes para que o filme se torne uma obra de arte. Porém, esqueçamos as telas e o éden que estas resumem. Por baixo de uma bela fachada, por trás de um cenário esplendoroso, espreitando através das cortinas de olhos fulminantes e de uma censura social incomensurável, encontramos uma “típica” família patriarcal (?), minada pela traição, pela (ainda... “doença” da) homossexualidade e, sobretudo, pelo medo das vozes de amigos (?) e conhecidos que rotulam uma amizade verdadeira, mas que aos seus olhos é um pecado. Uma amizade (que poderia tornar-se amor passional), uma união, uma consagração de duas essências humanísticas. Porém, são duas essências de sabores diferentes: uma é de baunilha e é mais aceitável; a outra é de chocolate e, azar dos azares, este, por estas alturas, andava muito amargo... Este filme é a contemplação de uma obra única. É a sensação da existência de heróis em tempos difíceis. Heróis com fraquezas. Mas heróis que tentam ser ainda mais heróis. O “happy end” final não é um verdadeiro “happy end”. É, antes, um “realistic end”, marcado pela assunção da impossibilidade de uma relação entre diferentes cores. Pergunto, será que este “realistic end” marca o final de uma época como marca o final de “Longe do paraíso”? Parece-me que este “realistic end” ainda se mantém inevitável e estupidamente aceso na sociedade actual.
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Longe do paraíso; perto de uma obra-prima

Fernando Lopes

Fantástico filme de Todd Haynes que nos continua a surpreender. Filme “remake” de filmes dos anos 50? Não, é mais que isso. Há algo mais, há um olhar cínico, uma inquietação que desde o início do filme nos é transmitida. Cedo nos apercebemos que debaixo daquelas coloridíssimas folhas de Outono se escondem personagens plenas de desejo por algo socialmente inaceitável na altura. Aqui uma palavra para a magnífica banda sonora que juntamente com os actores e o décor constitui uma peça fundamental na transmissão dessa inquietação. Tudo é perfeito: as roupas, os carros e as casas, mas no interior as personagem lutam desalmadamente pela negação dos seus desejos de forma a que possam continuar a viver a sua existência "quase" perfeita. É neste campo que tanto Julianne Moore (note-se na rigorosa composição da personagem que é óbvio nos movimentos graciosos e, ao mesmo tempo, plenamente calculados da personagem de Cathy) e Dennis Quaid são fenomenais. Não vão existir romances arrebatadores e paixões desenfreadas, as personagens apenas lutam com elas própria e tentam matar o desejo quando este se mostra inadequado aos padrões da altura. Não vão existir gesticulações ou gritos, apenas momentos em que as personagens não dizem aquilo que lhes é impossível de dizer (principalmente a Cathy já que Frank, talvez por ser homem acaba rendido ao desejo). São os gestos contidos, são as palavras que ficam por dizer que marcam este filme e o tornam num filme belíssimo. A não perder!
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