Um diamante não lapidado
Ivo Miguel Barroso
1. ALAN TURING, brilhante matemático inglês (“The Imitation Game” é o nome do artigo científico de Alan Turing), vai, com a ajuda de uma equipa que chefia, criar um computador para decifrar o “Enigma”, o “computador” dos nazis e as suas mensagens, no período inicial da Guerra; segredo esse que irá ser mantido, para que os Alemães não desconfiem. <br /> Calcula-se que tenha encurtado a Guerra em 2 anos. <br /> Infelizmente, toda a documentação foi destruída, pelo que os Historiadores não puderam ter acesso ao génio computacional de TURING. <br /> 2. O argumento é, à partida, fabuloso é fabuloso e fascinante: revela, porventura com imprecisões, um dos segredos da II Guerra Mundial: a descoberta, por parte dos Britânicos, da decifração do “Enigma”, máquina com a qual os Alemães revelavam os seus planos de ataque. <br /> Precursora da era computacional, a máquina “Christopher” é o nome do amigo que morreu jovem no Liceu. <br /> 3. Dito isto, o guião é pobre, bastante pobre até, por mais que coincida com a realidade. <br /> Tem “flashbacks” da história principal: i) para a adolescência, nos anos 20; iii) e avanços para o 2.º pós-guerra, quando descobrem que ele é homossexual. Isto, durante todo o filme. <br /> 4. O filme faz uma popularização, de modo a que as pessoas se identifiquem com um génio; o que implica apoucar esse mesmo génio. Dá relevância a detalhes sem qualquer interesse dramático; a certa altura, dá ideia que está a “encher chouriços”, a fazer o público perder o seu tempo com pormenores perfeitamente escusados, descentrando-se do tema principal e, pior do que isso, apoucando o cientista em causa. <br /> (Por isso, concordo, por isso, totalmente com o JOSÉ MIGUEL COSTA, no “Público”: "uma biografia deste calibre merecia um tratamento mais competente e não ser tão "pintada em tons cor-de-rosa" (de facto, o realizador não conseguiu fugir aos clichés e à quase abulização/"infantilização" do personagem principal, bem como do evento de guerra - provavelmente, com o intuito de agradar ao júri de Hollywood e às massas"). <br /> 5. Os temas filosóficos ficam por tratar. <br /> Entre tantos: o processo de criação do génio; o ter o “poder” de salvar vidas e de não o poder fazer, para poder continuar a salvar mais vidas; a questão da homossexualidade e a absurda criminalização deste crime; uma vida ceifada tão cedo, aos 41 anos, de quem tantos serviços prestou ao Reino Unido e aos Aliados. A tragédia deste homem, que consegue salvar a Europa, mas que não pode ser reconhecido publicamente, devido a ser segredo de Estado, é apenas meramente aflorada; e o suicídio de TURIN, que praticamente não é tratado e ter-se-á devido a uma depressão. <br /> 6. A produção e a equipa merecem os parabéns pela divulgação. Mas poderia ter sido muito mais conseguida em termos fílmicos, mesmo para o grande público. <br /> Já vi histórias mais banais darem excelentes guiões e excelentes filmes. Enfim, um diamante praticamente não lapidado. <br /> 2 estrelas. <br /> Em todo o caso, só pelo interesse histórico, vale a pena ver.
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