As Lágrimas Amargas de Petra von Kant

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Drama 124 min 1972 M/16 01/01/2003 ALE

Título Original

Die bitteren Tranen der Petra von Kant

Sinopse

Um exercício transparente sobre a dinâmica do poder e da submissão de Rainer Werner Fassbinder que constitui uma das tentativas mais bem-sucedidas de apresentar uma peça de teatro, também da sua autoria, no cinema. Em "As Lágrimas Amargas de Petra von Kant" o autor e realizador faz um estudo sobre a maneira como as relações humanas se constroem e o poder que geram no universo feminino. A história gira em torno de Petra von Kant (Margit Carstensen), uma estilista que vive fechada no seu apartamento com a sua assistente Marlene (Irm Hermann). Debruçada sobre as suas criações e sobre as suas memórias, Petra vive isolada no seu mundo. Karin Thimm (Hanna Schygulla) é o elemento que falta para a relação claustrofóbica que se vai desenvolver entre as três mulheres. Karin é apresentada por uma amiga a Petra, que se deixa imediatamente fascinar por ela. As duas vão manter uma relação amorosa, que não vai durar muito tempo. PÚBLICO

Críticas dos leitores

As lágrimas amargas de Petra von Kant

Fernando Oliveira

Petra von Kant é uma estilista de sucesso. É arrogante. Com ela vive a sua assistente, secretária, criada mas também estilista Marlene. Petra detesta os homens, é divorciada porque deixou de amar o marido, mas nem por isso trata muito bem as mulheres: a sua relação com Marlene é quase sádica, trata-a com crueldade e desprezo. Um dia uma prima, Sidonie, que regressa da Austrália apresenta-lhe uma mulher jovem, Karin, que deixou o marido e voltou para a Alemanha sozinha. Petra engraça com ela e convida-a a ficar em sua casa. Logo as duas mulheres iniciam uma relação amorosa. Sempre na presença de Marlene, Petra fica dependente de Karin. Portanto o que Fassbinder conta em “As Lágrimas Amargas de Petra von Kant” é um confronto massacrante e desgastante entre as vontades de um grupo de mulheres.

Adaptado de uma peça teatral, o realizador “enclausura” as personagens no atelier/quarto de von Kant e dali não sai. É uma história de sedução e conflitos de poder encenada como uma extraordinária inteligência por um homem que amava profundamente as mulheres, as suas actrizes. Filma o desequilíbrio entre o este confronto e a memória do imaginário romântico dos grandes melodramas de Douglas Sirk duas décadas antes (e há alguém a quem Petra telefona que se chama Mankiewicz).

Entre o realismo e o irrealismo: entre as palavras, ou a sua ausência, o desejo e o ciúme que devora as personagens e que vão alterar as relações de poder entre as três mulheres e um cenário quase gelado “esmagado” pela reprodução de um quadro de Poussin, extravagante e decadente. Uma dissimulação que serve para fazer sobressair as palavras, as conversas e os conflitos daí resultantes, a sua crueldade.

Como as mulheres trágicas dos filmes de Sirk, Petra von Kant é uma presença devastadora e devastada, está “perdida”, deseja o amor, apaixona-se por Karin e com isso “troca” de lugar. É Karin que domina e que, depois, a abandona. E Petra perde-se no desgosto. Até ao dia do seu aniversário, cruel com a mãe, a filha e a prima que a visitam e com Marlene, “renasce” depois de um telefonema de Karin em que recusa a sua visita.

Ironia trágica: no fim, sozinha com Marlene, pede-lhe desculpa pela maneira como a tem tratado; diz que a quer conhecer melhor, que lhe conte coisas sobre ela, Marlene enche uma mala com os seus pertences e sai. Durante todo o filme Marlene nunca falou…

Um dos mais belos filmes de Fassbinder, formalmente espantoso; e com interpretações extraordinárias de Hanna Schygulla, Irm Hermann e Margit Carstensen. Apaixonante e essencial. (em "oceuoinfernoeodesejo.blogspot.com")

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