À imagem da música do seu retratado, o pianista e compositor Oleg Karavaychuk (1927-2016), este é um filme impressionista pensado como carta de amor, registo histórico e rendição boquiaberta a esta figura excêntrica, com qualquer coisa de andrógino, demasiado "visível" para o conformismo exigido na URSS. O "compositor maluco", como Karavaychuk era conhecido entre os vizinhos, escreveu muito para filmes (de Sergei Parajanov ou Kira Muratova) e produções de palco, alegadamente por serem das poucas actividades que não lhe criavam problemas com as autoridades. Mas – à imagem de muitos nomes talentosos cuja arte não procurava apenas servir o aparelho – só após a Perestroika o seu nome e as suas "performances" multidisciplinares atravessaram o Cáucaso. Nada disto, contudo, é directamente referenciado no filme de Andrés Duque ("Color Perro que Huye", "Ensayo Final para Utopía"), que se concentra em deixar Karavaychuk falar por si – ou antes tocar por si, em cenas rodadas no interior do museu Hermitage, em São Petersburgo, onde o pianista ora improvisa ora ensaia frente às câmaras num piano que pertenceu ao czar Nicolau II. Não sendo nem retrato biográfico, nem documentário de tema, "Oleg y las Raras Artes" vê Andrés Duque, venezuelano radicado em Espanha, ir à Rússia filmar um artista que foi mal-amado nos tempos comunistas e que, mesmo hoje, parece ter ficado esquecido pelos recantos daquele enorme país. Jorge Mourinha (PÚBLICO)