Justiça seja feita ;)
André Coelho
<p>Bom, começando pelo fim. Gostei deste filme. Aficionado pela trilogia "Alien" (excluindo, obviamente, aquela aberrante sequela do Luc Besson), poderia ter ficado desiludido com este "prequela" - teria razões bastantes para isso - mas não fiquei. Pelo contrário.<br /><br />Algumas outras pessoas que viram levantam questões de incoerência no argumento e de não compreenderem certas passagens. Parece-me legítimo. No entanto, começo por argumentar que tal não constitui necessariamente razão para pendurar uma obra na série "B" (ou "D", ou "Z"), veja-se como um mero exemplo - e brilhante - "Mulholand Drive", se bem que num registo totalmente diferente. Sinceramente, e falo da minha experiência pessoal, o esforço permanente para perceber tudo, quando se trata de uma obra de arte, é um feito inglório, desapropriado e essencialmente infrutífero, pois perde-se metade do tempo a tentar perceber cada fotograma e a encaixar tudo mentalmente em tempo real, em vez de gozar plenamente o que se lhe depara diante dos olhos. Em todo o caso, e no sentido de fornecer uma explicação (embora pessoal, não necessariamente transmissível a outros) para algumas "incoerências" levantadas, posso dizer:<br /><br />- Porquê os 2 técnicos se perderem na nave alienígena quando estão em contacto com a nave "Prometheus", que tem um mapa 3D em curso - porque são nitidamente incompetentes, e o exagero só lá está para dar mais ênfase e mais justificação à sua morte terrível. São mercenários, totalmente desligados das motivações dos arqueólogos que motivaram a viagem (ou pelo menos assim acham os próprios), e não estão minimamente treinados para lidar ou reagir em ambientes inóspitos e/ou desconhecidos. Além disso, e precisamente por isso, entraram em pânico, o que explica a sua aparente desconexão e incoerência de movimentos. Aliás, basta reparar que toda a "missão" é constituída por um amontoado de pessoas desconectadas umas das outras, com motivações diversas, e que, à exceção de alguns poucos, só se conheceram pessoalmente ao acordar 2 anos e tal depois da partida da Terra. Ou seja, treino conjunto e espírito de missão: 0.<br /><br />- Porquê aquela contaminação por uma espécie de vírus, que afetou o arqueólogo. Atenção às circunstâncias: foi o elemento artificial da equipa que, cuidadosa e secretamente, trouxe de volta à nave Prometheus, um dos "vasos" alienígenas, supõe-se que por já ter adquirido algum conhecimento prévio sobre os mesmos (aliás, repare-se também que o sabia abrir, retirar o conteúdo, bem como sobre o seu potencial efeito sobre um ser humano). Repare-se também que foi o mesmo elemento artificial - aliás, majestosamente interpretado - que abriu todas as portas na nave alienígena, passando os dedos por sobre umas formas em baixo relevo, supostamente conhecendo esses códigos. Como adquiriu esse conhecimento? Terá sido estudando as línguas antigas humanas, se calhar remotamente ligadas às dos Supra-humanos, cuja nave (em forma de ferradura) vieram a encontrar? Serão outras razões?... As questões ficam em aberto, e quanto a mim isso faz parte da beleza do filme. :) Qual terá sido o seu objetivo? Lembremos que o elemento artificial representa o Pai da empresa, o velho que procura repudiar ou pelo menos adiar a Morte (um dos lados da Humanidade mais negros), seguindo a sua "agenda"...interpreto que a ideia era trazer de volta para a Terra (lembremos Alien 2 e 3) a forma de vida alienígena, em gestação, nomeadamente no útero de uma das mulheres a bordo. Obviamente que teria de ser a nossa "neo"-Ripley, que apesar de constituir quase um "clone", em termos de personagem, da original Ripley (Sigourney Weaver), vai muito bem. Objectivo? Estudar armas biológicas, desenvolver a "arma perfeita", qualquer coisa do género...aliás, presente nos restantes "Alien". Não nos esqueçamos que a espécie humana nunca estabeleceu Contacto com nenhuma outra espécie alienígena (inteligente ou não), pelo que, por enquanto, toda e qualquer estória contada por humanos e que envolva humanos e alienígenas será invariavelmente sobre...lá está, humanos. Não conhecemos outra realidade.<br /><br />- Experiência com Supra-humano, no início, que terá "corrido mal". :) Eis a minha interpretação: aquele é o Prometheus original, e o planeta é a Terra, há milhões de anos atrás. O que terá "corrido mal"? Nada. Era suposto ser assim. O Prometheus, como diz a lenda grega, tirou o fogo aos Deuses para dar aos homens, e por isso foi banido do Olimpo. Aqui numa versão "espacial", o tal Prometheus é expulso da sua nave-mãe (imponente e desconcertante, sobre a paisagem bucólica e selvagem), entregando o "fogo" a um qualquer planeta menor (a nossa Terra), onde o seu ADN se terá espalhado e eventualmente recombinado com a fauna e flora locais, para milhões de anos mais tarde vir a dar origem a esta nossa espécie humana, tão inteligente como insana. Mais tarde descobre-se, a bordo da nave Prometheus, que o ADN destes "Engenheiros" é igual ao dos humanos...Deitar para o lixo 300 anos de Darwinismo? É este tipo de provocação que adoro ver em cinema. Muito bom!<br /><br /><br />Bom, já vos macei demasiado com delírios. Desafio todos a reverem o filme, pois há ali muitos detalhes importantes, interessantes e que tanto podem contribuir para alguma "compreensão" por parte do espetador, como para a erupção de mais questões...e não será essa uma das facetas mais deslumbrantes da Arte? ;)<br /><br />André Coelho</p>
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