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As Neves do Kilimanjaro
Título Original
Les Neiges du Kilimandjaro
Realizado por
Elenco
Sinopse
<p>Depois de muitos anos dedicado à empresa onde trabalhava, Michel (Jean-Pierre Darroussin) acaba por ser dispensado das suas funções. Apesar de tudo, não perde o optimismo e continua a sua vida, calma e feliz, ao lado de Marie-Claire (Ariane Ascaride), a sua esposa de 30 anos. Até serem assaltados por dois homens que os agridem e lhes roubam todo o dinheiro que haviam juntado para uma viagem de sonho à Tanzânia. Mas o verdadeiro choque ocorre quando ambos percebem que o assalto foi arquitectado por um dos operários da comunidade que, por estar desempregado, tem a família a passar por sérias dificuldades. A partir desse momento Michel e Marie-Claire questionam-se até que ponto a violência pode ter sido justificada. Agora, para que possam regressar à tranquilidade da sua vida e aceitar o que lhes aconteceu, eles têm de perceber os motivos que levaram aquele homem àquelas circunstâncias.<br />Realizado por Robert Guédiguian ("Um Passeio Pela História", "O Exército do Crime") e estreado no Festival de Cannes em 2011, um filme sobre a bondade e a capacidade de perdoar, que se inspira no poema "<em>Pobres"</em> ("Les Pauvres Gens"), de Victor Hugo (1802-1885). PÚBLICO</p>
Críticas Ípsilon
Críticas dos leitores
Classe Média, O Que é Isso?
J.F.Vieira Pinto
“Promovido” que foi, a membro da classe média, Michel e a sua mulher, podem agora, viajar. Sim! Só a esta classe é permitida tal veleidade. Podem inclusive, cuspir os caroços das azeitonas, incluídas numa bebida tomada num qualquer terraço de um bar da moda, bem como viajar para países exóticos e contemplar a sua miséria. Contam para isso, com a prenda em dinheiro e os bilhetes de avião, que amigos e família se cotizam, até que acontece o assalto...<br /><br />Assiste-se a um conflito de gerações, protagonizado pelo assaltado e o assaltante. Se para o primeiro, a reforma garantida e as férias pagas são fruto das suas lutas sindicais, para Christophe, o jovem assaltante – que não sentiu na pele o “trabalho” dessas conquistas – tudo lhe parece “normal” ter essas mesmas regalias, nem que para isso tenha de roubar!<br /><br />Robert Guédiguian, parece querer retomar o cinema de Laurent Cantet (“Recursos Humanos”). É um cinema social - não confundir com panfletário - que faltava em tempos de globalização, que graças à dita cuja, a culpa é sempre dos outros! “As Neves do Kilimanjaro” é um filme a ver e, principalmente, pensar! Senão, os “outros” pensarão por nós.
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O Sol de Kilimanjaru
MIGUEL COSTA
<p>Michel e Marie-Claire são um casal de classe média. Ele é operário e líder sindical, ela é empregada de limpeza. São genuinamente felizes e cúmplices, em parte devido aos sólidos valores morais de esquerda que professam e tentam aplicar ao seu próprio quotidiano. Embora com uma vida de "pequenos burgueses" orgulham-se de não terem adquirido muitos dos "tiques" que caracterizam esta "classe em vias de extinção". Mas será q é mesmo assim? Não se terão eles próprios transformado num subproduto de uma esquerda aburguesada?<br /><br />A acção inicia-se nos estaleiros de Marselha, onde vemos um homem (Michel) retirar do interior duma caixa o nome de 20 funcionários que irão ser despedidos, em nome da viabilidade financeira da empresa (dizem q é a crise!). É com surpresa que ouvimos que o próprio nome de Michel é um dos escolhidos, afinal, ele é o líder dos sindicalistas. Mas a ética politica/moral deste assim o exigiu, não aceitou ser um privilegiado "entre pares", e como tal foi um dos infelizes contemplados desta "roleta russa".<br />Logo após este acontecimento é celebrado em clima de festa (algo "amarga") mais um aniversário do seu casamento, estando presentes no evento muitos dos seus ex-colegas e amigos do trabalho que oferecem ao casal, como presente, os bilhetes de avião e o dinheiro para uma viagem a Kilimanjaro. Mas como a "vida é madrasta" mesmo para os "justos", este é violentamente assaltado por um dos jovens que tentou "salvar".<br />E pronto... temos aqui o herói salvador dos pobres e oprimidos e o vilão "pobre e mal agradecido"? Nada disso! Mas o realizador também não optou pelo registo pseudo social de "ao pobre tudo é permitido/desculpado porque é um desgraçado de Deus". Felizmente (digo eu!), e isto porque neste mundo raras são as coisas verdadeiramente "brancas ou pretas", vivemos numa imensa "mancha cinzenta". Desta forma, "As Neves do Kilimanjaro" mergulha-nos num painel complexo de personagens pobres, que praticam actos condenáveis, mas todos eles com suas próprias razões, e ao invés dos "filmes morais" em que ninguém é julgado, aqui faz-se o contrário: julgam-se todos os personagens (tanto os "bons" quanto os "maus"), mas não se toma partido por nenhum deles (ninguém está livre de ser "condenado" e/ou "absolvido"). E esta reversão de expectativas é uma das grandes "mais-valias" deste filme. Em vez de choradeira (e dos efeitos da globalização; e da luta de classes; e da perda de direitos adquiridos; e dos jovens criados no neoliberalismo que não conseguem inserir-se no livre mercado nem contar com o apoio do Estado, e que, por extensão, demonizam as "regalias" dos velhos "proteccionistas" de esquerda; bla bla bla - e estes aspectos, todavia, estão "todos lá") temos também esperança, e a mensagem exclusivamente política é assim complementada por uma mensagem de grande humanismo (algo que falta à politica nos nossos dias - mesmo no "quadrante da esquerda"). Pode até ser (e é mesmo) uma retórica excessivamente "adocicada" e a anos-luz da realidade, mas de quando em vez também é bom fugirmos um pouco ao cinismo e acreditarmos que a ética, a "igualdade", a capacidade do ser humano perdoar e sacrificar-se por outrem não é apenas algo do campo da utopia (mesmo que seja só nos filmes - e o CINEMA também SERVE PARA NOS FAZER SONHAR).</p>
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O presente agora
Joao Rosa
<p>Mais de que um filme, deve ser observada esta hora e meia como um exercício à nossa crítica social. Faltou um drama, ficamos pela paisagem. Recomendo com 3*.</p>
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