Um filme capaz de converter o mais céptico dos críticos
Pedro Silva
<br /><br /><br /><br />Se Cristopher Nolan começou com Batman uma era, The Avengers voltou a transformar os super-heróis em super entretenimento, assistindo-se ao culminar do que começou com Iron Man, seguido de The Incredible Hulk, Iron Man 2, Thor e Captain América. Começou então a gestão das expectativas e uma grande celeume se levantou.<br />Meticulosamente preparado pelos filmes que o antecederam, The Avengers surge para gáudio de todos os admiradores, curiosos e fanáticos.<br />Necessário seria entregar algo que estivesse à altura do que tinha vindo a ser patrocinado e vendido, e não nos enganemos, foi brilhantemente conseguido, tendo por base um guião que nunca retira o heróico ao herói nem a humanidade que lhes afecta as decisões conjugando com cenas magníficas em que nos presenteiam com uma panóplia de super-poderes até ao surpreendente humor embutido em cada personagem.<br />Com Joss Whedon na realização, The Avengers, não procura o desenvolvimento profundo das personagens, sendo isso abordado nos respectivos filmes (recuperando os referenciados anteriormente), encontrando-se aqui por outro lado a exploração da relação entre estes egos como um grupo e a tentativa de se perceber como interagiriam vários super-heróis se estivessem todos juntos a tentar individualmente manter a sua importância e orgulho.<br />Cada personagem acompanhada da sua história é trazida à vida por um elenco que faz um trabalho exímio, que consegue concretizar a ideia do realizador trabalhando de forma cativante e de tal maneira profissional de entrega aos seus papéis que é nesta dualidade de personalidades bem diferentes entre si, e seguindo Joss Whedon o que verdadeiramente se pretende, não optando pelo cliché de ter uma equipa que se junta para combater o crime, que nos apercebemos das profundas diferenças que os separam mas que os unem ao mesmo tempo. <br />Bem patente está o desagrado que nutrem ao início, visto serem todos personagens icónicas, habituados a resolver os sozinhos e principalmente a não receber ordens e muito menos partilhar a atenção.<br />Mas é nesta tensão constante que assistimos aos melhores momentos do filme, a esta constante luta para encontrarem o seu lugar que nos apercebemos que não estamos perante uma simples adaptação mas sim perante uma desconstrução do que é esta gestão de egos impossível de gerir, da orgânica própria de um grupo a não ser pela capacidade que cada um tem de se colocar ao dispor mas mantendo-se fiel a si próprio. <br />A verdade é que cada personagem assume o seu protagonismo mas se necessário fosse referir alguém, esse alguém não seria apenas um mas sim dois. <br />Primeiro será Tony Stark representado euforicamente por Robert Downey Jr. espelha toda a sua qualidade, carisma, humor e altivez de forma magistral como nos tem habituado. Um gosto ver Tony Stark igual a si com o seu lado irrequieto e por vezes juvenil, na sua constante provocação humorística que consegue meter uma sala de cinema inteira a rir e salivar por mais, a Steve Rogers (Captain America), colocando em perspectiva alguém habituado a não seguir pelas regras contra outro em que as regras fazem parte do seu anterior quotidiano, acabando por assumir uma postura de que compreende que não está sozinho e algo maior será preciso proteger. <br />Segundo, Bruce Banner interpretado pela terceira vez por um actor diferente cabendo agora a Mark Ruffalo trazer Hulk de novo ao ecrã.<br />E eis que agradável surpresa.<br />Muito superior a Eric Bana, pega na versão de Edward Norton e melhora-a. Mais inteligente do que Tony Stark e guiando a sua vontade pelo seu lado racional e bondoso de compaixão, torna Hulk mais próximo do espectador, e quando é chamado a libertá-lo, assistimos a gloriosas cenas de verdadeira bestialidade e magnitude que só um personagem destes poderia entregar levando as mãos à cabeça petrificados quando nos apercebemos da força libertada. Temos aqui a verdadeira surpresa do filme, contrariando os cépticos e entregando vários momentos espectaculares como cómicos, principalmente na interacção com Thor interpretado por Chris Hemsworth que repete aqui o excelente desempenho do filme homónimo<br />Uma palavra para o também excelente desempenho de Jeremy Renner como Hawkeye, um verdadeiro Robin Hood dos tempos modernos, Samuel L. Jackson como um diferente Nick Fury e Scarlett Johansson como Black Widow. Cada personagem tem o seu talento e é recompensador ver a maneira como os combinam.<br />Loki não aparece como um simples vilão mas como alguém com um verdadeiro plano, que o quer cumprir até ao fim, mas balançando na ténue linha entre o malévolo objectivo e a redenção.<br />Será a partir do momento em que se apercebem que só trabalhando como equipa é que verdadeiramente conseguem funcionar e retirar o melhor de si que o filme atinge o seu pico e encontra o seu objectivo de forma subtil e cuidada. Finalmente os egos não mais interessam, os conflitos e desconfianças não mais têm lugar , mas sim o interesse comum que os une como tal e que os torna especiais, o bem comum.<br />Os efeitos especiais são a par com as gloriosas cenas de acção dois dos factores que contribuíram para este sucesso, como seria de esperar. Acção frenética intercalada por verdadeiros diálogos coerentes e magníficos equipamentos elevam a grandeza do que se passa no ecrã. E como é espectacular assistir a titânicos embates.<br />The Avengers entrega o que promete e muito mais, eleva a fasquia para os futuros filmes do género e a relação umbilical que todos estes heróis partilham tornam o filme em algo verdadeiramente coeso e fascinante. <br />Hipocrisias de parte, estamos perante algo que vai gerar um lucro milionário mas merecido porque Joss Whedon dedicou mais do que a sua vontade, meteu o respeito e a admiração acima de si, realizou um filme que vai excitar o mais fanático dos fãs e conquistar o mais céptico dos críticos. <br /><br />Crítica originalmente publicada no blog Retroprojeccao
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