<p>Fala-se muito de morte neste "Inquietos". Desde inclusão de Henry Hopper, filho de Dennis Hopper (Vant Sant homenageia-o) até a presença constante de funerais. Pelo meio, a doença terminal de Annabel...<br /><br />Contudo, é uma visão poética do fim da vida. Enoch Brae sabe-o bem: esteve morto três minutos, daí o fascínio por velórios. E é num destes funerais, que conhece Annabel, a sua compincha espécie "fura-funerais" que, com a sua doença terminal, tenta viver com todo o vigor os três meses que lhe resta, fazendo toda a espécie de projetos desde, estudar os insetos que extinguem os corpos, até preparar a doação do seu corpo à ciência...<br /><br />"Certain regard em Cannes, e depois do inflacionado "Milk", Gus Van Sant, volta a surpreender! Para quem, julgava ter em "Elephant" a sua obra-prima, este "Restless/Inquietos" vem confirmar o grande "autor" que continua a ser e a excepcional capacidade de um "certo olhar" para um tema tão delicado como a morte, embora o que o filme promove (e enaltece) seja a vida!</p>

<p>Gus Van Sant é um dos meus realizadores de culto, ou não fosse ele o "criador" de filmes como "Elephant", "Last Days" e "Paranoid Park". No entanto, esta sua nova película surge como um ovni na sua cinematografia (não que isto implique que seja má, antes pelo contrário), por ser dotada de um estilo que não estamos habituados a associar a Gus Van Sant (embora também seja verdade que no passado já fez filmes mainstream como "O bom rebelde" ou políticos como o "Milk").</p><p>"Restless" é quase como um conto de fadas que retrata a breve história de amor entre dois jovens: Ele é um rapaz solitário (cujo único amigo é um fantasma de um militar japonês da 2ª guerra mundial) que, após a morte dos seus pais, tem por único passatempo frequentar velórios de desconhecidos; Ela, uma apaixonada por Charles Darwin e a sua Teoria da Evolução, tem um período estimado de vida de 3 meses, dado ser portadora de um tumor cerebral em estado terminal... Um belo dia conhecem-se num velório e "plim", surge o amor! <br /><br />A história tinha tudo para ser um dramalhão de fazer chorar as pedras da calçada, mas o realizador consegue transformá-la numa (quase) terna comédia (mesmo não tendo um "final feliz") com uma mensagem positiva (e cheia de "ensinamentos"). E é isto que distingue os grandes mestres, ou seja, como alguém dizia: "não interessa a história, mas a forma como ela é contada".</p>

<p>Se tivesse morrido ontem, morria em estado de pleno reconforto." Restless" já existia em "Elephant", "Restless" anuncia um "Elephant" diferente, já com a doçura do primeiro. Este novo filme de Van Sant comoveu-me até à fímbria do Belo que sempre tanto se busca. Um filme que já encontrou o verdadeiro sonho do Futuro. FDC</p>