As Neves de Kilimanjaro

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Aventura 117 min 1952 M/12 09/01/1999 EUA

Título Original

The Snows of Kilimanjaro

Sinopse

"As Neves de Kilimanjaro", filme de Henry King baseado num conto de Ernest Hemingway, foi uma das mais bem sucedidas tentativas de transpor o universo ficcional de Hemingway para o cinema. Harry Street (Gregory Peck) é o personagem central de "As Neves de Kilimanjaro" — um homem, que, tal como Hemingway, era escritor, viajante e um defensor da liberdade. Deitado numa cama, num campo em África, com vista para o monte Kilimanjaro, Harry — que sofre de uma ferida gangrenosa na perna — recorda o seu passado. Está a ser tratado pela sua mulher Helen (Susan Hayward), mas a história, que se conta em "flashback", é a da altura em que ele era um jovem e promissor escritor e se apaixonou por Cynthia (Ava Gardner), em quem se basearia para criar a heroína do seu primeiro romance. O filme foi nomeado em 1953 para o Óscar de melhor direcção artística e de melhor fotografia.

PUBLICO.PT

Críticas dos leitores

O sol de Kilimanjaru

MIGUEL COSTA

<p>Michel e Marie-Claire são um casal de classe média. Ele é operário e líder sindical, ela é empregada de limpeza. São genuinamente felizes e cúmplices, em parte devido aos sólidos valores morais de esquerda que professam e tentam aplicar ao seu próprio quotidiano. Embora com uma vida de "pequenos burgueses" orgulham-se de não terem adquirido muitos dos "tiques" que caracterizam esta "classe em vias de extinção". Mas será que é mesmo assim? Não se terão eles próprios transformado num subproduto de uma esquerda aburguesada?<br /><br />A acção inicia-se nos estaleiros de Marselha, onde vemos um homem (Michel) retirar do interior duma caixa o nome de 20 funcionários que irão ser despedidos, em nome da viabilidade financeira da empresa (dizem que é a crise!). É com surpresa que ouvimos que o próprio nome de Michel é um dos escolhidos, afinal, ele é o líder dos sindicalistas. Mas a ética politica/moral deste assim o exigiu, não aceitou ser um privilegiado "entre pares", e como tal foi um dos infelizes contemplados desta "roleta russa".<br />Logo após este acontecimento é celebrado em clima de festa (algo "amarga") mais um aniversário do seu casamento, estando presentes no evento muitos dos seus ex-colegas e amigos do trabalho que oferecem ao casal, como presente, os bilhetes de avião e o dinheiro para uma viagem a Kilimanjaro. Mas como a "vida é madrasta", mesmo para os "justos", este é violentamente assaltado por um dos jovens que tentou "salvar".<br />E pronto ... temos aqui o herói salvador dos pobres e oprimidos e o vilão "pobre e mal agredecido"? Nada disso! Mas o realizador também não optou pelo registo pseudosocial de "ao pobre tudo é permitido/desculpado porque é um desgraçado de Deus". Felizmente (digo eu!), e isto porque neste mundo raras são as coisas verdadeiramente "brancas ou pretas", vivemos numa imensa "mancha cinzenta". Desta forma, "As Neves do Kilimanjaro" mergulha-nos num painel complexo de personagens pobres, que praticam actos condenáveis, mas todos eles com suas próprias razões, e ao invés dos "filmes morais" em que ninguém é julgado, aqui faz-se o contrário: julgam-se todos os personagens (tanto os "bons" quanto os "maus"), mas não se toma partido por nenhum deles (ninguém está livre de ser "condenado" e/ou "absolvido"). <br /><br />E esta reversão de expectativas é uma das grandes "mais-valias" deste filme. Em vez de choradeira (e dos efeitos da globalização; e da luta de classes; e da perda de direitos adquiridos; e dos jovens criados no neoliberalismo que não conseguem inserir-se no livre mercado nem contar com o apoio do Estado e que, por extensão, demonizam as "regalias" dos velhos "protecionistas" de esquerda; bla bla bla - e estes aspectos, todavia, estão "todos lá") temos também esperança, e a mensagem exclusivamente política é assim complementada por uma mensagem de grande humanismo (algo que falta à politica nos nossos dias - mesmo no "quadrante da esquerda"). <br /><br />Pode até ser (e é mesmo) uma retórica excessivamente "adocicada" e a anos-luz da realidade, mas de quando em vez também é bom fugirmos um pouco ao cinismo e acreditarmos que a ética, a "igualdade", a capacidade do ser humano perdoar e sacrificar-se por outrem não é apenas algo do campo da utopia (mesmo que seja só nos filmes - e o CINEMA também SERVE PARA NOS FAZER SONHAR).</p>
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