Lucky

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Drama 88 min 2017 M/14 30/11/2017 EUA

Título Original

Lucky

Sinopse

Lucky, de 90 anos, vive numa pequena cidade do Texas (EUA). Os seus dias seguem iguais, com a constante repetição das rotinas: fuma os seus cigarros, toma o pequeno-almoço no café, faz palavras cruzadas, faz compras na mercearia e bebe um copo no bar com alguns amigos. Certo dia, cai na cozinha. Este incidente vai desencadear uma reflexão sobre toda a sua existência e a inevitável aproximação do fim...
Com Harry Dean Stanton como protagonista – numa das suas últimas aparições em cinema antes da morte, a 15 de Setembro de 2017 –, um filme dramático que marca a estreia na realização do actor John Carroll Lynch. Logan Sparks e Drago Sumonja também se estreiam como argumentistas. No elenco estão mais alguns veteranos da sétima arte: Ron Livingston, Ed Begley Jr., Tom Skerritt, Beth Grant, James Darren e David Lynch, entre outros. PÚBLICO
 

Críticas Ípsilon

Homens e cágados

Luís Miguel Oliveira

Lucky vive da condição especialíssima que é a presença de Harry Dean Stanton, e isso é irrepetível. Mas tudo indica que se deva ter atenção ao que Carroll Lynch vier a fazer.

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Críticas dos leitores

Lucky

Claudia Bonotto

Em uma era que glorifica tanto a juventude a ponto de fazer com que nos sintamos invisíveis para a sociedade quando ainda estamos a mais de 40 anos de cumprir com nossa expectativa de vida é um oásis no deserto deparar-se com um filme que expõe a velhice sem ser necessariamente apenas sobre isso. <br /> <br />Aos 90 anos, Lucky, um cowboy que gosta de mariachis, é lúcido e pratica yoga como pode, além de fumar um maço de cigarros por dia. Tem saúde, sim, mas está velho. O ex-cozinheiro da marinha (não é um grande artista, não é um super-herói com super poderes, não é John Wayne) vai ao bar, toma seu clamato de sempre, conta suas piadas, defende seus amigos, resiste à autoridade e se recusa a acatar o comportamento infantil que tantas vezes queremos impor aos idosos. Vive sua rotina sem "tragarse las palabras", mas finalmente se dobra e admite, "Yo sé perder, quiero volver, volver, volver". <br /> <br />Impossível não se identificar com Lucky. Não é sequer necessário ser um adolescente para já ter vivido uma experiência de transição (não seria a morte apenas mais uma delas?) em que tivemos vontade de chorar querendo voltar, voltar, voltar. Voltar a quê? A um estágio prévio, oras. Ao antigo emprego, a um relacionamento anterior, à pátria, aos 19 anos, a quando todos os ossos do nosso corpo estavam intactos, a quando ainda podíamos dormir com a mãe. E é isso que Lucky nos mostra, que não há como pular etapas. É preciso passar por esse estágio de dor antes de aprender que na vida nada volta. Nunca. E que a melhor forma de honrar o passado é deixá-lo ir. Cruel? Sim, mas isso, no fim das contas, é o que nos permite aprender com a alma o que já sabemos com a razão: que da vida nada se leva. As etapas terminam e é preciso seguir. Cruel? Sim, também, mas é o que torna único e inestimável o valor de cada momento presente. Deste inclusive. <br /> <br />Um filme do diretor que inventou o "cliffhanger" (aquela técnica de finalizar uma história com uma espécie de precipício, sem deixar o espectador saber exatamente o que acontece depois), Lucky nos convida a encarar duras realidades sem dó nem piedade. A boa notícia é que se formos capazes de fazer isso poderemos não só acender o rosto com um novo sorriso - e quem sabe mais um cigarro -, mas também, já seja para uma etapa da vida ou para a vida em si, morrer em paz.
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Lucky us

Fernando Pimentel

Há cinema e cinema. Há ir e voltar. Mas às vezes o regresso demora. Às vezes o toque da luz na sala escura percute as cordas da nossa sensibilidade e continuamos a vibrar com ele durante dias a fio, como se a película fosse, afinal, uma muito longa metragem. Quando voltamos, percebemos que nos aconteceu um filme, um filme como o recém-estreado “Lucky”. <br /> <br />Um bom filme não nos comunica diretamente as coisas. Levanta apenas a ponta do véu. O espetador tem direito a descobrir por si só; sem o desperdício de ter de engolir as evidências de uma vez; sem palavras ou acontecimentos em excesso, a darem a volta completa ao tabuleiro do filme sem passar pela casa Partida (a da fruição estética). O espetador tem direito a um bilhete para a descoberta interior do “filme por dentro”. O meu custou apenas 5 Euros, num dia de semana à tarde. <br /> <br />“Lucky” não tem fogo de artifício, dramas de telenovela, ou enredos recheados. A ação deste filme podia facilmente ser representada por uma brincadeira de Legos da minha filha: Boneco levanta-se, vai tomar um café, passa pela mercearia, vê televisão, acaba o dia no bar a tomar uma bebida. No dia seguinte o mesmo, e parece que assim qualquer um de nós podia ser cineasta. <br /> <br />Um dos segredos do filme é este minimalismo da ação, que apaga as luzes para que se veja melhor a chama das coisas que interessam: a dimensão física (quase metafísica) dos noventa anos do corpo do Harry Dean Stanton, cuja atuação nos leva a acreditar que temos diante de nós um discurso sério sobre a vida e a morte (e era mesmo o caso, porque o protagonista morreu 2 semanas antes da estreia); o percurso do ator na sua relação com as personagens, que vão iluminando as facetas do seu eixo existencial; a qualidade dos secundários e a sua subtil composição sobre a amizade; e a pairar por cima de tudo, os divertidos diálogos do filme, cujas referências entre si constroem a escada da elaboração filosófica, que termina num patamar muito elevado: a síntese do filme numa única e comovente imagem. <br /> <br />Ao revisitar os mesmos cenários (e os mesmos planos), o filme vai-nos familiarizando com o código que utiliza para se comunicar. À medida que recebemos o alfabeto, vamos entendendo a linguagem da câmara, e vamos sorrindo com ela. <br /> <br />Um filme tocante, cuja beleza confirma que são verdadeiras (em tempo de filme) as palavras que foram nele semeadas. Mas parece-nos que estas até podiam ser menos, porque filmes assim nos recordam que temos dentro de nós uma sensibilidade captativa, que nos faz estremecer com aquilo que não foi dito, mas que foi entendido. Lucky us. <br />
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Lucky

Olga batista

Filme passado no sudoeste americano mas, com argumento "a la francaise" (sem muita acção), apenas um olhar sobre um momento de uma vida banal. <br />Apesar de aparentemente não se passar nada na vida daquele velho homem, cujos actos rotineiros acabam por fazer a ligação com os poucos habitantes da aldeia, vai-se descobrindo, pouco a pouco, a originalidade e a frontalidade com que ele ultrapassa o medo de morrer. <br />Filme bem construído e amoroso. Selecção musical muito boa. <br />5/5
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5 estrelas

JOSÉ MIGUEL COSTA

Lucky, um filme dramático (convenientemente definido, algures, como um western zen), que marca a estreia na realização (uauu!!!) do actor John Carrol Lynch, sobre as banais rotinas diárias de um excêntrico cowboy nonagenário solitário ("solitário mas não só", como o próprio faz questão de frisar - afinal, apesar do seu feitio peculiar, é apaparicado por toda a comunidade de uma pequena vila semi-desértica do Texas profundo), protagonizado pelo, entretanto falecido, Harry Dean Stanton (em cujas histórias de vida a - também estreante - dupla de argumentistas se inspirou). <br /> <br />Um tratado sublime sobre a inevitabilidade da mortalidade (que acaba por transformar-se numa quase ode à vida), sem qualquer espécie de dramatismos (inclusive, os sorrisos nunca deixam de marcar presença - o próprio refere "há que sorrir perante a iminência da morte") e/ou teorizações (aliás, o charme que transborda advém do seu minimalismo e da paciência dada aos pequenos gestos e aos magníficos diálogos populares impregnados de inteligentes "nadas", conseguindo, deste modo, captar a poesia e o humanismo electrizante dos "pequenos" momentos). <br /> <br />E, como se tudo isto não fosse suficiente, ainda temos um bónus ... o DAVID LYNCH surge no filme a contracenar com o cowboy viciado em palavras cruzadas.
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Lucky

Raul Gomes

Lucky daqueles que o seguiram desde Paris-Texas, até ao apoteótico final. One man show.<br />R.I.P. e obrigado.
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Lucky (2017) - Crítica

Francisco Quintas

Lucky, um texano de 90 anos, depois de uma ligeira tontura, começa a lidar com a ideia da chegada cada vez mais breve da sua morte. <br />Trata-se do directorial debut do ator John Carroll Lynch. Como nós sabemos, existe sempre aquele receio de ver a primeira obra de realização de um determinado artista, sobretudo quando o mesmo nunca teve nenhum outro trabalho no mesmo cargo. O ator nunca realizou nenhuma curta ou episódios para séries, mas mostrou-se perfeitamente à altura do desafio. Lucky é um filme minimalista e curto, mas muito bem trabalhado técnica como interpretativamente. É prova que quantidade não é sinónimo de qualidade. <br /><br /> Por onde começar? A interpretação do Harry Dean Stanton merece ser comentada o quanto antes. O ator morreu em Setembro com 91 anos e teve uma carreira muito respeitável. Com uma filmografia de 60 anos com mais de 200 trabalhos, o ator demonstrou estar em forma para participar em mais projetos. E apesar das tão elogiadas performances em Alien, de 1979, e em Paris, Texas, de 1984, Lucky junta-se à lista das mais poderosas interpretações da carreira do ator. Dentro de uma aparente inexpressividade, o personagem é irónico, carismático, convidativo, engraçado, mas também maldisposto e, por vezes, grosseiro. O público acompanha-o nas variadas cenas de humor e de maior reflexão sobre diversos assuntos. Sendo assim, aprende muito sobre ele com pouquíssimos diálogos. A sua caracterização consiste em montagens da sua rotina, em cenas sossegadas do protagonista a fumar ou a tocar harmónica, e em maravilhosos monólogos assim como ótimos close-ups na sua cara, recheados de muita emoção transmitida pelos olhos do personagem. O ator carrega o filme às costas completamente. Uma nomeação póstuma era minimamente obrigatória. Descanse em Paz, Harry. <br /><br /> O filme tem a capacidade de dividir algumas pessoas. A história aborda sobretudo a perceção individual da nossa mortalidade e eventual fim, assim como um longo recapitular da nossa vida e daquilo que a mesma podia ter sido. O que há a seguir a tudo? Outra vida? Outro lugar? Ou apenas um constante, porém relaxante vazio? São várias as questões que o protagonista partilha com o público, sem nunca receber qualquer resposta, o que é sempre acertado de se fazer no cinema. Responder a estas dúvidas coletivas seria até presunçoso. <br /> Os diálogos no geral e a opinião inicial concreta do protagonista acerca destas questões fazem parte de um guião muito engraçado, com a dose certa de cinismo. O equilíbrio entre o humor e o drama sempre presentes é muito fluído. Principalmente, quando o Lucky conversa com os vizinhos, há um ótimo desenvolvimento de uma comunidade pacata e de um companheirismo na pequena cidade texana. <br /><br /> O elenco secundário não sai muito do esperado. Verdade é que todos somem na sombra do Harry Dean Stanton, mas poucos são os atores que conseguem estabelecer uma presença notável. A impressão que dá é que algumas conversas de Lucky com determinados personagens ficaram por acabar. No entanto, simpatizei rapidamente com o Barry Shabaka Henley, sendo sem dúvida o maior destaque, na realidade, o David Lynch. A participação cómica e propositadamente risível do conhecido realizador gera alguns dos momentos mais engraçados de todo o filme. <br /><br /> Tal como maior parte dos filmes independentes americanos, Lucky possui uma fotografia ligeiramente poluída e acastanhada, contudo com um charme distinto que me farão lembrar de todas as enormes composições horizontais do protagonista a passear pelo vasto deserto, que nada mais são que referências/homenagens ao filme Paris, Texas. É de realçar, os catos, aliás, como os cágados, são muito simbólicos. Merece destaque também uma pequena cena psicadélica que trabalhou muito bem o vermelho. <br /><br /> A banda sonora, à base de harmónica, violino e viola, é uma das mais agradáveis do ano. Há também escolhas musicais muito adequadas como I See A Darkness, do Johnny Cash, e Volver, Volver, cantada pelo próprio Harry Dean Stanton, numa cena tocante e arrepiante. <br /> Lucky é um filme pacato, é minimalista, paciente, mas com uma fascinante habilidade de gradualmente compensar, tocar e surpreender o seu público. Oferece uma realização convicta, firme e promissora do John Carroll Lynch, uma banda sonora maravilhosa, uma reflexão rica e concentrada no seu tema central, e um Harry Dean Stanton inspirado naquela que é uma das melhores performances masculinas do ano e da sua carreira. <br /> <br />Nota: A
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