Ninguém Sabe

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Drama 141 min 2004 M/12 30/03/2006 JAP

Sinopse

Quatro crianças vivem com a mãe num pequeno apartamento em Tóquio. São todas filhas de pais diferentes e a mãe escondeu a existência de três delas do senhorio. Um dia a mãe desaparece, deixando apenas algum dinheiro e um bilhete em que pede ao mais velho para tomar conta dos irmãos. E assim começa a odisseia das quatro crianças, uma jornada de que ninguém sabe.

O filme inspira-se num facto real que ficou conhecido como "o caso das quatro crianças abandonadas de Nishi-Sugamo", em 1988. As crianças nunca tinham ido à escola nem tinham existência legal, pois a mãe nunca registara os nascimentos. Yagira Yuya, que interpreta o mais velho dos quatro irmãos, ganhou o Prémio de Melhor Actor em Cannes. PÚBLICO

Críticas Ípsilon

Ninguém Sabe

Mário Jorge Torres

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Jorge Mourinha

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Ninguém Sabe

Luís Miguel Oliveira

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Sozinhos em casa

Vasco Câmara

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Críticas dos leitores

O visível e o invisível

Antonieta Ribeiro

Ouvem-se alertas na rádio e na televisão, lêem-se nos jornais estórias verídicas sobre crianças abandonadas à sua sorte ou vítimas de violência. "Ninguém sabe" é um filme de uma beleza subtil e inquietante. Transmite emoções que nos consciencializam para problemas reais de uma forma quase discreta, com uma contenção que impressiona talvez ainda mais por isso mesmo. Já não se trata do "boy ou girl next door". A cidade traz o anonimato mas por vezes surpreendemo-nos com os "manuais de sobrevivência" que descobrimos nos seres humanos mesmo pequeninos. A inocência tem para alguns custos severos. Que o sentido de cidadania seja incrementado para que se não caia na gélida indiferença aos outros. Só ninguém sabe porque é que este filme não está recomendado pelo Cine Cartaz...
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Uma história de quatro heróis

Marina

É com alguma tristeza que vejo as medianas pontuações aqui dadas ao "Ninguém Sabe" pelos críticos da casa, que percebo se encontra em exibição somente no King e que poucas pessoas terão acesso a ele. Mas, é com muito mais satisfação, preenchimento e orgulho que expresso ter tido conhecimento do filme e o ter visto. Já há muito que os filmes asiáticos me têm impressionado positivamente. Contudo, este superou. Encontrei nele alegria, sentimentos tristes e contraídos... e uma beleza sem dimensão descritível. Quatro crianças, sem pais conhecidos, sem escola, sem outros amigos. Com uma mãe que quase poderia ser uma também irmã, ou uma possível filha maior. Talvez exceptuando Shigeru, todos os outros orgulham-nos com a sua maturidade e noção de presença no mundo. Especialmente Akira, admirável tanto como personagem e como actor.<BR/><BR/>Não é fácil imprimir aqui as emoções que este filme e sua beleza me plantaram (e tenho vindo a regar). Principalmente quando não se sabe medir a recepção que poderá ter junto de quem ler isto. Acredito que experiências, culturas, educações, contactos reforcem ou não este tipo de impacto. Mas prefiro arriscar. E dizer que, pelo que valer a minha opinião, é dos filmes mais belos. Numa beleza pura e climatizada de diferentes sentimentos, a maioria deles ternurentos, que me fazem crer que posso segurar, tocar o filme e acarinhá-lo...
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Ninguém quer saber

Rita Almeida (http://cinerama.blogs.sapo.pt/)

Keiko Fukushima (You) muda-se para um novo apartamento alugado e apresenta o seu filho Akira (Yûya Yagira), de 12 anos, ao senhorio, "esquecendo-se" de mencionar qualquer um dos seus outros três filhos: Kyoko (Ayu Kitaura) de 10 anos, Shigeru (Hiei Kimura) de 7 e Yuki (Momoko Shimizu) de 4. Para que se continue a não saber da sua existência, sob pena de serem expulsos do apartamento, Keiko impõe as regras, como se de um jogo se tratasse: não fazer barulho e não sair (excepção feita a Akira, que está encarregue de fazer as compras). Nenhuma destas crianças vai à escola e não têm amigos. Sem tempo nem liberdade para serem crianças, mal conseguem alimentar os seus sonhos de tocar piano (Kyoko) ou de jogar basebol (Akira). Para a mãe, eles são úteis (simples bagagem, e não só metafórica), não só no sentido prático de fazerem todas as tarefas em casa (das limpezas ao pagamento das contas), mas (e talvez sobretudo) de alimentarem a sua sede de amor e de atenções. É esse mesmo romantismo que leva Keiko a abandoná-los, quando crê ter encontrado um homem que cuidará dela.<BR/><BR/>Keiko oferece presentes aos filhos, sem pedir desculpa ou explicar-se. Quando é confrontada por Akira com o seu comportamento negligente, apenas diz: “Eu tenho direito de ser feliz”. Mesmo antes de se ir embora, Keiko é já uma mãe ausente, e quando a única coisa que deixa aos filhos é dinheiro para se manterem por uns tempos, a vida deles não se altera de um modo significativo. Até porque acreditam que, mais cedo ou mais tarde, a mãe acabará por regressar. Quando isso não acontece, a sua ansiedade e apreensão aumentam.<BR/><BR/>Os adultos de “Ninguém Sabe” comportam-se como crianças (mimados, irresponsáveis, egoístas), enquanto paradoxalmente as crianças agem como adultos. É quando este ciclo é rompido, quando Akira tenta finalmente ser a criança que é, arranjar amigos e divertir-se, que o mundo (apesar de tudo) seguro que estas quatro crianças conhecem começa a desmoronar-se.<BR/><BR/>A arrumação, a limpeza, a própria aparência física dos jovens, vai-se tragicamente arruinando, e assistimos a quatro vidas em declínio, antes mesmo de terem começado. Na ausência da mãe, as visitas ao mundo lá fora tornam-se os momentos de maior felicidade, e os universos de Akira, Kyoko, Shigeru e Yuki começam a expandir-se. Mas tal como sucedeu no Big Bang, muita coisa foi criada, mas muita outra foi destruída.<BR/><BR/>Kore-eda capta toda a intimidade da rotina dos irmãos dentro daquele pequeno apartamento, mas sem qualquer claustrofobia. O mesmo não se pode dizer dos sentimentos, quase totalmente contidos, sem explosões ou confrontos, mas onde se lê o profundo amor que os une. Kore-eda opta pela evidência através do contraste, como sucede no início do filme, em que uma situação horrível se mistura com o divertimento característico das crianças, ou como um jogo de basebol reflecte a total ausência e necessidade de uma figura protectora.<BR/><BR/>Este é um filme de emoções intensas, onde paira a iminente sensação de calamidade. Apesar da coragem, da resistência, e da capacidade de (apesar de tudo, ou por causa de tudo) estas quatro crianças conseguirem vencer o desespero com algum humor, a indiferença das grandes sociedades impessoais continua a ser desarmante e incontornável.<BR/><BR/>Baseando-se livremente num incidente que ocorreu em 1988 em Nishi-Sugamo, quando quatro crianças foram abandonados pela mãe e deixadas sozinhas durante 6 meses, Kore-eda rejeita qualquer abordagem sociológica ao tema, tratando as emoções dos quatro jovens com uma subtil sensibilidade. Quase todos os acontecimentos são mostrados do ponto de vista de Akira, e esta subjectividade torna tudo ainda mais duro. A mãe nunca é mostrada como um monstro, porque não é assim que os filhos a vêem. Para garantir espontaneidade nas representações, Kore-eda não deu o guião aos seus jovens actores, limitando-se (?) a dar-lhes as falas e explicar-lhes o que pretendia. O ambiente criado é dolorosamente real, e quase se pode sentir o cheiro dos restos de comida e sujidade acumulados no apartamento. As interpretações das crianças são, sem excepção, isentas de falsidade, mas o poder do olhar de Yûya Yagira vem justificar o prémio de melhor interpretação masculina na edição de 2004 do Festival de Cannes.<BR/><BR/>“Ninguém Sabe” foi filmado durante um ano, o que facilitou a sincronia com a cronologia do filme, e permitiu não só filmar as mudanças das estações, mas também o crescimento das crianças (facto apontado num dos momentos mais dramáticos do filme). A atenção ao detalhe é também evidente, em especial o vermelho do verniz (recurso utilizado com grande inteligência como marca da passagem do tempo), da bola, do desenho da mãe, das flores, como símbolo do amor que é necessário para um crescimento / florescimento saudável. Um amor que jamais poderá ser enviado por correio com uma nota apensa.<BR/><BR/>A melancolia destas crianças é dolorosa e quase insuportável. A sua dureza perante os mais violentos acontecimentos chega a ser incompreensível. E há uma parte muito forte que nos envolve nesta história, e que se chama culpa colectiva. Fomos nós que os abandonámos à sua sorte, nós o sistema de apoio social, nós os vizinhos que ignoram os abusos, nós os pais e mães que não merecem esse nome.<BR/><BR/>Este é um dos filmes mais tristes que já vi, mas de uma beleza que só é possível através de um olhar inocente. E o que acontece depois de se perder uma infância à qual nunca se teve direito? <BR/><BR/>Ninguém sabe.
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Ninguém quer saber

Rita Almeida (http://cinerama.blogs.sapo.pt/)

Keiko Fukushima (You) muda-se para um novo apartamento alugado e apresenta o seu filho Akira (Yûya Yagira), de 12 anos, ao senhorio, "esquecendo-se" de mencionar qualquer um dos seus outros três filhos: Kyoko (Ayu Kitaura) de 10 anos, Shigeru (Hiei Kimura) de 7 e Yuki (Momoko Shimizu) de 4. Para que se continue a não saber da sua existência, sob pena de serem expulsos do apartamento, Keiko impõe as regras, como se de um jogo se tratasse: não fazer barulho e não sair (excepção feita a Akira, que está encarregue de fazer as compras). Nenhuma destas crianças vai à escola e não têm amigos. Sem tempo nem liberdade para serem crianças, mal conseguem alimentar os seus sonhos de tocar piano (Kyoko) ou de jogar basebol (Akira). Para a mãe, eles são úteis (simples bagagem, e não só metafórica), não só no sentido prático de fazerem todas as tarefas em casa (das limpezas ao pagamento das contas), mas (e talvez sobretudo) de alimentarem a sua sede de amor e de atenções. É esse mesmo romantismo que leva Keiko a abandoná-los, quando crê ter encontrado um homem que cuidará dela.<BR/><BR/>Keiko oferece presentes aos filhos, sem pedir desculpa ou explicar-se. Quando é confrontada por Akira com o seu comportamento negligente, apenas diz: “Eu tenho direito de ser feliz”. Mesmo antes de se ir embora, Keiko é já uma mãe ausente, e quando a única coisa que deixa aos filhos é dinheiro para se manterem por uns tempos, a vida deles não se altera de um modo significativo. Até porque acreditam que, mais cedo ou mais tarde, a mãe acabará por regressar. Quando isso não acontece, a sua ansiedade e apreensão aumentam.<BR/><BR/>Os adultos de “Ninguém Sabe” comportam-se como crianças (mimados, irresponsáveis, egoístas), enquanto paradoxalmente as crianças agem como adultos. É quando este ciclo é rompido, quando Akira tenta finalmente ser a criança que é, arranjar amigos e divertir-se, que o mundo (apesar de tudo) seguro que estas quatro crianças conhecem começa a desmoronar-se.<BR/><BR/>A arrumação, a limpeza, a própria aparência física dos jovens, vai-se tragicamente arruinando, e assistimos a quatro vidas em declínio, antes mesmo de terem começado. Na ausência da mãe, as visitas ao mundo lá fora tornam-se os momentos de maior felicidade, e os universos de Akira, Kyoko, Shigeru e Yuki começam a expandir-se. Mas tal como sucedeu no Big Bang, muita coisa foi criada, mas muita outra foi destruída.<BR/><BR/>Kore-eda capta toda a intimidade da rotina dos irmãos dentro daquele pequeno apartamento, mas sem qualquer claustrofobia. O mesmo não se pode dizer dos sentimentos, quase totalmente contidos, sem explosões ou confrontos, mas onde se lê o profundo amor que os une. Kore-eda opta pela evidência através do contraste, como sucede no início do filme, em que uma situação horrível se mistura com o divertimento característico das crianças, ou como um jogo de basebol reflecte a total ausência e necessidade de uma figura protectora.<BR/><BR/>Este é um filme de emoções intensas, onde paira a iminente sensação de calamidade. Apesar da coragem, da resistência, e da capacidade de (apesar de tudo, ou por causa de tudo) estas quatro crianças conseguirem vencer o desespero com algum humor, a indiferença das grandes sociedades impessoais continua a ser desarmante e incontornável.<BR/><BR/>Baseando-se livremente num incidente que ocorreu em 1988 em Nishi-Sugamo, quando quatro crianças foram abandonados pela mãe e deixadas sozinhas durante 6 meses, Kore-eda rejeita qualquer abordagem sociológica ao tema, tratando as emoções dos quatro jovens com uma subtil sensibilidade. Quase todos os acontecimentos são mostrados do ponto de vista de Akira, e esta subjectividade torna tudo ainda mais duro. A mãe nunca é mostrada como um monstro, porque não é assim que os filhos a vêem. Para garantir espontaneidade nas representações, Kore-eda não deu o guião aos seus jovens actores, limitando-se (?) a dar-lhes as falas e explicar-lhes o que pretendia. O ambiente criado é dolorosamente real, e quase se pode sentir o cheiro dos restos de comida e sujidade acumulados no apartamento. As interpretações das crianças são, sem excepção, isentas de falsidade, mas o poder do olhar de Yûya Yagira vem justificar o prémio de melhor interpretação masculina na edição de 2004 do Festival de Cannes.<BR/><BR/>“Ninguém Sabe” foi filmado durante um ano, o que facilitou a sincronia com a cronologia do filme, e permitiu não só filmar as mudanças das estações, mas também o crescimento das crianças (facto apontado num dos momentos mais dramáticos do filme). A atenção ao detalhe é também evidente, em especial o vermelho do verniz (recurso utilizado com grande inteligência como marca da passagem do tempo), da bola, do desenho da mãe, das flores, como símbolo do amor que é necessário para um crescimento / florescimento saudável. Um amor que jamais poderá ser enviado por correio com uma nota apensa.<BR/><BR/>A melancolia destas crianças é dolorosa e quase insuportável. A sua dureza perante os mais violentos acontecimentos chega a ser incompreensível. E há uma parte muito forte que nos envolve nesta história, e que se chama culpa colectiva. Fomos nós que os abandonámos à sua sorte, nós o sistema de apoio social, nós os vizinhos que ignoram os abusos, nós os pais e mães que não merecem esse nome.<BR/><BR/>Este é um dos filmes mais tristes que já vi, mas de uma beleza que só é possível através de um olhar inocente. E o que acontece depois de se perder uma infância à qual nunca se teve direito? <BR/><BR/>Ninguém sabe.
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